domingo, dezembro 6

Há sempre uma questão

É tudo uma questão de esforço. A todo o instante. Um esforço para partir e um outro para ficar. Um esforço para acordar e contrariamente um para dormir; um para fazer e ainda um outro para se deixar fazer. A todo o instante. Se a natureza não colobora e facilita a ordem das coisas, se não faz por nós o que desejamos não saber fazer acabamos indeterminadamente por chegar ao ponto do esforço. E esforçamo-nos em demasia mesmo quando estamos imóveis, cansamo-nos por nos mantermos na insconsciência do esforço.
Talvez não tenha que ser assim, talvez não me esforçe para me esforçar e talvez seja esta a simples e crua razão. São 50, 30, 20 dias de contínuo esforço não recompensados; são dias, semanas, meses de esforços inactivos. Provavelmente tudo isto acerca de esforços feitos ou pensados não signifique mais que a apatia crónica, a desconsolação de olhar e não obter um produto, de desejar e não encontrar frutos, de querer fazer mas não encontrar modos fáceis, exigências pequenas para o realizar. Não é tudo tão dificil, na realidade a complicação parte do interlocutor. Provavelmente complico coisas facilitadas, teoriorizo práticas, invento factos. Tem de ser tudo uma questão de probabilidades que o esforço não deixa comprovar ou esforça-se por não o fazer. Talvez seja este o esforço para viver. E camuflar a realidade nem sempre é um simples empenho.

sábado, outubro 24


traduzir silêncios ainda não faz parte de um método, isto segundo Andreia Silva

sexta-feira, outubro 9

Ruído de fundo

São dias cizentos, estes de pensamentos enegrecidos. São manhãs sombrias de orvalho pesado, essas em que a mente deambula perdida na neblina e a alma permanece na intranquilidade humana, são efusões confusas que nos deixam vaguear entre opostos incompreensiveis. Hoje é como se um desses momentos temporais se estreitasse entre os meus passos e conectasse com o cérebro pedindo lhe desesperadamente que abrande, que descanse sobre a chuva e devaneie com a brisa. Não estou segura, não sei se o que tento escrever corresponde à veracidade imanente, creio porém nesta nostalgia pesada que se descarrega sobre os meus olhos pesados e me confunde os desejos.

Sinto falta do que conheço. Hoje, apenas hoje.

terça-feira, outubro 6

(Apontamento de uma noite nostálgica in Diário de Bordo - Concerto )

"Gosto de especular sobre as pessoas, gosto de imaginar e reinventar estórias. Gosto de pensar que o senhor do saxofone de olhos pesados tem uma estória vincada nas rugas faciais. Gosto de lhe atribuir uma narrativa e enquadrá-lo num pensamento meu."

"Se a música não vale pelos instrumentos de que é composta ou pelos sons que produz, vale somente pelas emoções que provoca e pelas distâncias que alcança. Estou aqui..mas poderia estar em qualquer lugar desde que os doces acordes do piano não me largassem a pele e a alma."

Andreia Silva

sexta-feira, setembro 25

À primeira vista (suspiro)


DieUmarmung (Abraço) , 1917, Egon Schiele
Óleo sobre tela, Österreichische Galerie, Belvedere, Viena
"Não pela forma, não pela nome, muito menos pelo tema.. foi assim intencional. Aconteceu sem propósito, aconteceu sem estória ou critica e por isso foi, sim, à primeira vista. Soberbo..."
Andreia Silva

terça-feira, setembro 15

Perfection in Form (Título da exposição)



Robert Mapplethore
Galleria dell´Academia, Florence, Italy
May 25, 2009 - January 10, 2010


Uma exposição intrigante para quem não compreende a dimensão e potencialidade do corpo. Um percurso visual apaixonante para quem encontra no corpo e na forma a beleza humana. Uma mistura eléctrica perdida nos seios femininos e a concentração da virilidade esbatida nos poderosos músculos masculinos. Simplesmente delicado.

domingo, setembro 13

Liberdade?

A Liberdade não existe. Não no sentido lato do vocábulo, não na consciência multiplicada da palavra, não naquilo que supomos ser a liberdade. É indecifrável, é tão simplesmente indefinível que não estou capacitada para lhe atribuir um significado claro e concluso. Porem também eu pensara que a liberdade era algo possível, que nada impedia que um espírito livre de todas as recompensas momentâneas pudesse realmente ser livre. Não compreendam a dimensão de tudo aquilo que o vocábulo encerra como algo prático, como algo diário que podemos atribuir puramente à liberdade social ou judicial. Não é isso que abarca a minha ideia de tal assunto. Anteriormente julgava-me crente na possibilidade de ser-se completamente livre, totalmente independente de tudo aquilo que pudesse criar raízes, que pudesse possuir amarras materiais ou espirituais. Confuso? Um pouco. Partilho alienadamente desta teoria e sinto-me perdida nas dimensões infundadas da minha afirmação primária.

Facto pelo qual introduzi primeiramente a negação: A memória.

É isso, a memória, as recordações, as deduções e todos a abrangência do domínio cognitivo que nos sustenta no mundo material e nos eleva ao mundo metafísico. Sem memórias não somos. Ser e recordar são frutos da mesma essência. Como poderia alguém sem recordar as origens, os amigos, o cheiro e tudo aquilo que os olhos possibilitam deliciar? E não é possível voluntariamente dissipar algo da memória, excepto o tempo, somente ele pode enfraquecer as recordações remotas de todo um percurso humano. Temo pelas horas, temo pela carência humana da qual partilho, receio profundamente dissipar de mim as reminiscências. Agora receio.

No entanto, em alturas imaturas pensei ser totalmente dependente de tudo isto. E achei-me capaz de estar em qualquer lugar sustentando-me somente de mim, imaginei-me capaz de ser livre sem estremecer ou recuar. Agora vejo com limpidez que mesmo na dormência da razão eu sempre estive certa da estabilidade e talvez por isso nunca poderei ser livre na concepção que determinei para tal ideia. Necessito de segurança, de crer ficticiamente que nunca estarei nas trevas, de que terei um amparo quando tudo o que imaginei ser tiver esvaído por entre os dedos. É isso que faz com que a liberdade não exista, é isso que não me permite estar só dos outros e acompanhada somente dos meus desejos. O que acontecerá quando a maturação humana tiver deteriorado todos os anseios da juventude? Eu saberei certamente que corro pela precisão dos outros. Que estar só e livre não significa encontrar a felicidade, denota pelo contrário insistir no erro, repisar e sustentar o embuste protector da necessidade. E necessito tanto dos outros quanto de mim, isto porque me recordo das conversas demoradas, dos amores aspirados, do conforto material e da segurança interior que tudo isto representa.

domingo, agosto 30

Sossego-me de perturbações furiosas dando espaço à plenitude do espaço e do tempo. Sinto-me assim, meio efémera, meio intemporal. Não, minto eu sou muito mais efémera do que aquilo que me sinto e muito menos intemporal do que o meu desejo. Sou uma espécie de ser que vagueia interminavelmente por esta condição.

A intelectualidade apaixona-me e destroi-me sucessivamente. Faz me falta a razão para compreender a operacionalidade da vida. Faz me falta viver e não saber fazê-lo. É isso.

quinta-feira, agosto 27

LIT NIGHT

Permaneço nesta dormência crónica em que os desejos procedem realidades, a caminhar sobre as estradas sinuosas das ruelas em que não estive e me ausento das memórias onde fui. Por que retenho as recordações dos rios que não vi e as cidades que não visitei? É o compasso ansioso de quem nunca saiu ou esteve. Reinvento mapas e encontro países, e engano-me tão descaradamente que por vezes nem eu mesma acredito. Eu, que critico seguramente o vazio sinto-me permanecer no vácuo, nas sombras deambulantes sobre a parede branca. Do lado de fora as fechaduras surgem gigantescas, vejo-me a sufocar só de me prender nelas e no entanto são as que escolho quando procuro o recolhimento do interior.
Mesmo com o desejo injectado da aprendizagem ensino-me a repousar e descanso deste tédio incontrolável que bane pessoas e lugares.É tudo uma questão de ignorância, de procurar moldar o que já foi criado, é o pensamento na substituição quando o elixir se encontra na criação. São meros excessos, pensamentos furiosos do imediato e inconscientemente o caminho convidativo da loucura. E não suporto esperar, porque me concentro somente na inquietação. Talvez seja somente a pressa de quem nunca esteve capacitado para o tamanho da vontade. E nada me soa a verdade de tão amadurecido que é, porque talvez as coisas urgentes não sejam as necessárias, uma mera ficção de tudo.



A impaciência não me deixa dormir e isto sim aborrece e entedia.

sexta-feira, agosto 7

As vontades intencionadas requerem esforço. De modo passivo e refens do comodismo não se podem nem devem alcançar.

domingo, junho 28

Confissões de alguém algures (mas não daqui)

Nada disto tem razão alguma de ser. Tudo o que se escreve por aí é odioso, fútil e erróneo. As pessoas passam demasiado tempo a tentar ensinar os outros do que não sabem, para fugirem ao que devem aprender. Quando disseram que a vida faz sentido porque se sonha incorreram na armadilha do ódio. Os sonhos são para quem tem tempo. Quem se demora e se ilude com esperanças tolos e impossíveis. Não sonho, espero somente e desejo. Preferem acreditar num futuro gracioso a encarar a doença febril do presente.Optam por sugar o doce presente a reviver o passado. O egoísmo humano leva-nos a varrer o passado em prol do auto-perdão. Apagamos as feridas antecedentes porque só estamos confortáveis com as recompensas momentâneas. Dizemos amar sem saber o que isso significa. Amamos por nós, para nos sentirmos bem connosco e esquecemos o outro - o amado. Quero-mo-lo sempre pronto, ali, despojado. Para que nos aproveitemos, para amarmos intensamente com o objectivo da auto-satisfação. E se aquele que julgamos também partilhar deste estado, desejar somente estar só? Que fazemos? Continuamos a desejá-lo connosco, junto de nós, faz-nos falta. Sempre nós, nós, eu.
Fingimos o que não somos porque queremos parecer o que desejemos reflectir. Achamos-nos desoladamente sós porque o receio de estarmos acompanhados acarreta consequências. Descobrirem-nos é a nossa própria morte. Nunca somos o que realmente nos define, pois o que transparecemos insurge-se como a auto-proposta da descrição. Então sugerimos o que queremos ser ou generosamente oferecemos o que querem de nós? Impressionamos o próximo para que se deslumbre e instantaneamente cansamos-nos. É difícil estarmos constantemente a corresponder a todas as expectativas que esperam de nós, aquilo que o mundo aguarda impaciente, e tão depressa nos aplaude como nos abandona. É um público ingrato, este mundo.
De tanto interpretarmos perdemos a identidade. Perdemo-nos de nós. E o que digo eu? Um amontoado de ideias tolas que nada mais são que desculpas frustradas. E o sol? Ah! Sim o calor do sol mantém-se firme. Tal como o vento que sopra. A Natureza é fiel. Acredito que muitos dos seres que habitam neste espaço, e que dotados de razão percebem que são o que desconhecem. Vivem em lugares inóspitos onde nem eles reconhecem o caminho. Mas há sempre alternativas. Enquanto uns aprendem a cair outros aprendem a levantar-se. É possível lembrarmos-nos do que nunca vimos? Acredito que sim. As lembranças que guardo das cidades que nunca visitei servem-me muito mais que as que conheço. E isto nada mais é que o desejo de fuga. Tal como tantos a opção de fugir para se permanecer auxilia nesta coisa mundana de se viver. Não definam as coisas linearmente. Há tantos mortos que vivem e outros que vivendo estão já feito enfermos na debilidade da consciência. Mas o sol está sempre presente. E aquele que julga estar morto está só à espera da ajuda falsa de um outro que lhe conceda a vida, porque na cobardia da força quedou-se de medo. Em muitas noites regresso sem nunca ter partido, e quando nos cobram a ausência não questionam se estivemos. Estive tantas vezes e em nenhuma, julguei ter avistado alguém.
Deixa lá que eu também finjo. E me acerco de falsas palavras para me perdoar. somos sempre os primeiros da fila, e admitamos que a linha de desesperados é interminável. Mas recolhemos o primeiro bilhete e mesmo preferindo-nos escolhemos agradar o outro, exactamente porque tal ideia nos conforta. Somos o outro sem a mutação corpórea.

Hoje escolhi ser isto, afinal não sou de cá.

domingo, junho 21

Odeio romances. Não suporto relações, melhor que isso não acredito que existam.

Ainda assim leio Tristão e Isolda e deixo-me assim embebida por coisas inexistentes. Espreito a janela e não vejo ninguém. É hora de ponta mas não vejo ninguém. Demoro-me mais um pouco encostada ao vidro frio e penso em ti. Porque não acredito em nós e não nos vejo no futuro. Apetece-me somente este terno presente em que não somos um do outro mesmo quando nos entrelaçamos, chega-me sentir esta proximidade realista que não adiciona ilusões. Bem sei que amanhã talvez não sejamos mais, que provavelmente o nós se desvanecerá com as horas do relógio e eu ficarei onde sempre estive, junto da janela.

Não precisas de me sussurrar baixinho que ficarás comigo, muito menos dares-me a mão quando juntos vemos o Tejo. Não quero. Dá-me só este sopro de vida hoje, enquanto não me recordo do depois.

quarta-feira, junho 10

O sim. Porque sim

Sim. POrquê? Porque sim. E é assim que termina, uma conversa que, eventualmente, poderia dar frutos frescos. O sim porque sim e o não porque sim. Relativamente Às eleições europeias realizadas no passado dia 07 de Junho, sobre quais muito se especulou tenho que referir o facto da declarada abstenção que mais uma vez ficou aquém das expectativas. Portugal é pequenino ou suficiente, dependente das interpretações, mas mais que entender e justificar as possíveis limitações da bela ilha plantada à beira-mar, é despertar nos portugueses o espírito critico. Hoje liguei a TV, ontem também, e há anos que vejo e sigo os noticiários. No entanto, e apesar da Globalização estourar, de João Paulo II ter sido beatificado, dos EUA terem entrado em guerra com o Iraque, Portugal parece ainda não ter compreendido a dimensão da pequenina coisa alcançada após o 25 de Abril. O Sr. da tasca continua a afirmar que talvez isto estivesse melhor com um Salazar, mas após entrar um jovem de piercing ou de tatuagem desnuda, há quem ainda afirme que esta juventude tem sorte por não ter vivido na época do Estado Novo. Mais que uma clara contradição há o comodismo português que justifica tudo com um suspiro de: "pois isto está bom é para os ricos, e quem paga é o Zé Povinho". E o dia chega ao fim sem que os braços cruzados se desfaçam. Depois podemos sempre assistir Às tipicas conversas de autocarro em que a maioria das pessoas acomodadas culpa o governo e faz o choradinho dos impostos. Caramba! Não há paciência. Até que por acaso, mesmo num país em que julgam as coisas estarem muito obsoletas, chega um dia como o das eleições. Isto já depois de muita campanha política que incentiva o cidadão a intervir, agora o apelo é mais claro que nunca, veja-se o caso do CDS-PP
Não vamos entrar pela questão da imagem em si, nem da ideologia política que o sustenta, foquemos-nos somente na palavra VOTO. Há quem bem que soa! Finalmente após anos de luta, dias de sangue, revoltas e tumultos, nós ocidentais podemos fruirmos-nos desses ensinamentos clássicos advindos da Antiga Grécia, e encarnamos o espírito da democracia. No entanto há quem ainda não o tenha assimilado. Portugal esteve afundado na ditadura Salazarista durante mais de 40 anos até que finalmente o sistema comum chegou aqui, apesar de sermos pequeninos, isto para os mais cépticos. Então constituíram-se partidos, ideologias, liberdades. E os defensores incansáveis pelo avanço gigante do país viram concretizado o sonho da igualdade e liberdade. Em consequência os portugueses tornaram-se militantes, esboçaram opiniões, elegeram e expressaram a sua vontade. E as eleições foram-se sucedendo, tal como os rostos políticos e as propostas sugeridas. (Atenção que não disse concretizadas). Isso é um outro assunto, na realidade o que menos importa perante a mensagem que desejo transmitir.
Voltando às eleições e à escandalosa abstenção é de notar os comentários póstumos ao atentado homicida à democracia.
- Eu não fui votar porque nem vale a pena, é sempre a mesma merd* só mudam é as moscas.
- Eu votar nestes chupistas que só querem é enriquecer À conta do povo.
E mais, e mais etc. Lá estamos nós a afirmar a nossa pequenez e fraca inteligência. Então mas a mudança é passiva? Alguma vez alguém mudou de roupa sem ter que tirar a peça que vestia? é verdade, o exemplo é brejeiro, mas parece que está ao nível de muita gente que passeia alegremente pelas ruas e diz-se português, claro que esta afirmação é só quando joga a selecção. E depois perguntam: então mas porque não votou? Porque sim. E ficam todos satisfeitos com esta junção de três letrinhas. SIM. Quantas perguntas e conversas cessaram assim? Apenas com um pequenino sim. Não é uma questão de "sims", é uma responsabilidade educacional que deveria caber a todos mas parece que a nenhuma assombra. Tudo está supostamente mal porque o corpo representativo das sociedades modernas permanece adormecido, passivo, acomodado. E é muito mais simples, mais conveniente atribuir a crise ao governo do que aos agentes que movem o país. Um dos exemplos que, na minha opinião, ilustra significativamente esta afirmação são os impostos. Eles sobem e o povo chora. Mas depois escapam-se no IRS e lá volta a necessidade de subir mais uns degraus. Então mas as pessoas fogem ao fisco e depois queixam-se da subida dos impostos?! E camuflam a auto-culpa. É claro que não sou tão ingénua a ponto de acreditar que os órgãos legislativos não metem, enganam, e produzem falcratuas das grandes. Mas somos nós, PORTUGUESES, que os elegemos. Muito bem eles podem ser todos feios, mentirosos,medíocres mas mesmo assim há um espacinho branco para cruzar. Francamente estou a ser cínica visto não ter afirmado na urna, a minha convicção de que o voto é a arma da revolução, é a voz do homem e o futuro das nações. E sei que posso estar a caminhar no sentido de uma possível descarga de consciência mas apenas quero relembrar a estas pessoas cegas que são eles que têm de mudar, e não esperar que um orgão politico por graça divina se purifique e crie a sociedade perfeita, que alguns ainda crêem poder acontecer sem que haja intervenção massiva.

sábado, maio 30

Em nenhum outro momento estive tão estéril.
Falta-me interromper o tempo e dar corda ao cérebro.
(pequeno apontamento)

sexta-feira, maio 1

domingo, abril 26

Já chegou o ...



O festival de cinema independente já chegou a Lisboa. Há imensas coisas para ver e ouvir. A competição nacional e internacional de longas e curtas-metragens oferece muitas opções e uma oportunidade para conhecer as produções cinematográficas independentes.

quarta-feira, abril 22

sem título

A espera ainda continua. A espera corresponde ao modo natural do rumo das coisas. Todos os dias esperamos dos outros e em retribuição eles esperam de nós. A espera é algo terrível... verdadeiramente doente. Permaneço numa contínua espera que quando é alcançada não se concluí em todas as expectativas nela depositadas. Talvez seja uma mera desculpa para não reconhecer que sou eu, individualmente, que espero de mais ou outros que não esperam tanta espera.
Frases obsessivas e febris que não conduzem a um outro lugar que não à desordem mental. Provavelmente deveria puxar os freios à corrida do tempo e deixar de esperar na pressa do quotidiano. Mas é tudo tão veloz e instantâneo que não me consciencializo de que as esperas são demasiadas. De que o problema reside na minha atitude perante os outros, que não são eles que não me satisfazem as expectativas e os desejos mas sou eu que os fantasio. É como esperar o que não existe, algo que é ficcional e sobre o qual me deleito. E adormeço sobre pessoas que não existem e que vagueiam na minha realidade, a qual diverge do mundo físico. E na manhã seguinte elas dissipam-se por que não se confirmam no mundo físico, o espaço onde me percepcionam e não me vêem. Criar espectros é puramente uma forma alienada de escapar à realidade, é a loucura do reconforto. Será errado? Não sei. Mas é doentio e destrutivo. Enquanto aspirar um mundo pelos meus sentidos intrincados entre os meus desejos, irei padecer desta espera eterna e verdadeiramente errónea.


sábado, abril 18

Silêncio falado

Nunca mais estive silenciada. Há realmente muito tempo que as palavras não descansam sem a pressão do incómodo proporcionado pelos circunstâncias. Demasiado, na verdade.
Os dias morreram com as horas e a necessidade de ser por palavras atenuou-se pela convivência que se alterou vertiginosamente. Tudo mudou: as pessoas, as conversas, os gestos, a atitude. Talvez poucas pessoas percebam que somos verdadeiramente na sua presença e elas só são o que realmente são na nossa.
Descreve-la torna-se impossível porque a autenticidade é algo muito pouco definível. E quando nos apercebemos do autêntico guarda-mo-lo como um segredo só nosso. Explicar ao outro a essência do que descobrimos isoladamente e que só faz sentido para nós é absolutamente uma luta. Uma luta para nós que perdemos as palavras e uma luta para eles que não alcançam a beleza de tal revelação. Mas tudo o que é demais é aterrador. E fugimos do diferente pelo refúgio do banal. O desconhecido é muito inóspito mesmo sendo apetecível, a necessidade humana do controlo manifesta-se rapidamente. Adequamos-nos ao que conhecemos mas não nos preparamos para o que emerge. Somos obrigados a ceder à tentação de nos revelarmos e aparentemente isto parece absurdo. No entanto é a condição para a elevação do espírito. Não importam as consequências que possam advir, não há receio pela descoberta das nossas fraquezas, há puramente a fruição do outro pelo sabor da autenticidade. É tudo pleno, efémero. E as horas completam-se e quando num acto de coerência ilógico vislumbramos a dimensão tudo se desmancha. Voltamos a ser o que os outros supõe que sejamos. Somos o diário e o público, somos o social e o que pensamos ser. Porque tolos acreditamos que conhecerem-nos é algo terrível. Nem todos o podem fazer mas os que procuram passar as barreiras do que se conhece atingem o estado mais perfeito e inteiro do ser humano. é nestes momentos que o discurso não fluí pois não tenho a necessidade de dizer nada, pois acredito que o que passa este obstáculo é capaz de reter muita informação que as palavras não abarcam. São estes silêncios que por não serem incómodos tornam-se boas conversas.

(acredito que algumas perguntas foram desfeitas com este mini post
)

terça-feira, abril 14

Há ausências que não podem ser substituídas, estas são as mais dolorosas.

sábado, março 21

Dualidade de um ser

O termómetro marcava 24ºC. Ao contemplar a brisa e a limpidez do céu poderia afirmar-se que estávamos num dos dias de Junho: o céu afigurava-se como uma manta de estrelas e a lua apresentava-se tão alta que de certo tornar-se-ia impossível presumir uma distância ou calcular a infinitude do céu. Mas não. Quem o pensasse achar-se-ia preso pelo engano pois tal como o termómetro também o calendário marcava '27 de Março'. Um dia que como tantos outros despertou com as Ânsias, os receios e desejos de uns; os atrasos, humores e desencontros de outros. Um dia que aparentemente se assemelhava aos outros que já tinham sido esquecidos e demarcado do bloco definido. No entanto já a noite se tinha expandido no tempo e o dia morria uma vez mais engolindo todos os desejos que nele tinham sido encerrados. De repente sem aviso prévio a aragem soprou e na constante presença da ténue brisa senti um arrepio. O ar tornou-se mais frio e o meu corpo reagiu. Estático incomodou-se, confortável destabilizou e a minha pele alterou-se tornando-se fresca. A simples mudança da temperatura no meu corpo desencadeou mais que um simples arrepio. A densidade do ar tornou-se mais pesada e eu mais frágil, vulnerável. Metamorfoses.

Da mesma forma que a minha plataforma física estranhou a inoportuna brisa assim se acostumou. É o poder da acomodação às circunstâncias, é a envolvência do corpo no espaço que o sustenta. O corpo. Em todos os anteriores momentos a consciência consistia todo o meu ser mas a realidade estampou a inconstância e mutabilidade da mesma pelo corpo. Apercebi-me pela sensibilidade a mesma que aflora os sentidos e a que parte do meu interior interferindo naquilo que me permite existir, o que faz com que ocupe um lugar, este.

Em tantos outras alturas acreditei ser a mente a única capaz de me fazer realmente permanecer, existir. Mas senti frio. E então apercebi-me da importância do corpo. O corpo que sou e o que sou no corpo. O que não controlamos interiormente devido à rebeldia do pensamento reflecte-se na necessidade de nos assegurarmos pelo exterior e por mais que ridículo que possa parecer há a ideia de escolhermos o corpo. É irreal imaginar-se sem as minhas mãos por onde sinto o toque que me permite palpar o mundo, sem os olhos por onde vejo a janela da minha realidade, sem as pernas que não me deixam entorpecer. É pelo corpo que sinto o prazer e retenho as recordações, as mais plenas tal como é por ele que descubro as mazelas discriminadas nas pequenas cicatrizes. Sim entendo o corpo como uma fonte de prazer e talvez por isso consuma a intolerável dor pela consciência pois não há nada que a atenue. É por ele que estou e é por ele que muitos me vêem. Todavia somos mais que corpos deambulantes, porque só os corpos nada são como talvez a consciência nada seja sem um corpo que a transmute para a realidade física que nos dá espaço, visualidade, existência.

(há que aprofundar melhor. Mas agora estou cansada em ambos os sentidos)

quinta-feira, março 12

Ser e Parecer

São diversas as suposições que sustentam as pessoas. Na duração da vida sem fim previsto há inevitavelmente na nossa mente um enredo de suposições que se não nos inquietam incomodam-nos os pensamentos. Num dia de 24 horas, isto porque o tempo é relativo mesmo sendo um facto (contradição?) ou numa semana de sete dias fomentam-se dúvidas e deduções hipotéticas que nos fazem crer que, de facto, questionamos quem e o que somos. Talvez haja quem não o faça o que a meu ver é possivelmente triste, porque viver sem perguntas é como não viver. Será?! E incrivelmente entre perguntas e indecifraveis respostas temos o displante de supormos o que não somos ou por receio ou por qualquer outra razão. Em conversas de café surgiu a questão do que somos afinal. Se o que nos define são as vontades, os desejos e os pensamentos então eu não sou quem supõe que seja. Mas se por outro lado eu sou os actos, as frases e as atitudes então talvez todos me conheçam facilmente. Poderemos ser também ambas as coisas? ... Há alturas em que me cubro de ideiais utópicos e creio nisto como em mim mesma, mas em outras não me parece que me definam pelas vontades e desejos que não mostro por convencionalismo e aparência. É uma constante busca pela essência do que somos e a insistência em definir quem não conhecemos. Então supomos: "E se...", "Se eu pudesse..." uma voz grita "Porque não podes?? Porque não fazes?" De repente revisto-me de desculpas e protego-me. No momento seguinte esqueço que as minhas questões nada mais foram senão fachada. Um embuste que me faz crer que sou capaz de questionar, é a farsa pessoal que me atenta e me desacredita. São falsos dilemas que eu procuro tornar verdadeiros para me definir por algo que também os outros crêem que seja. Talvez, talvez, talvez.

( Agora faz me falta mais conversas e suposições)

quarta-feira, março 4

Duelo de gigantes


A consciência é algo terrífico. Isto é absolutamente verdade ou não daria por mim, em diversos momentos, a tentar encontrar um escape para a teimosa voz mental que impiedosamente me sussurra. Há coisas que incrivelmente nos fascinam e assustam tais como a extensão do Universo e a dualidade da consciência. Graças a ambos eu existo e coexisto numa dimensão comum e partilhada, e no entanto graças a ambos alieno-me de mim e não sei que lugar ocupo e as razões porque o preencho no espaço. Felizmente a consciência é algo particular e a minha é apenas minha, abençoado seja quem não a tem e desesperado fique o que não possuí a consciência da consciência. Embora saiba que as confusões que se entrelaçam no meu cérebro não passam de meros devaneios tontos e inúteis para tantos, e para mim se assumam somente como confusos, é agradável certificar que passei ao estado avançado do animal e determinei-me por aquilo a que denominam ser um ser humano, um ser falante e pensante.



É estupidamente intrigante pensar nestas questões... todavia a graça da consciência faz-me obter o que muitos julgam possuir, a inteligência. Não me interpretem mal, acredito fielmente que todos dispomos interiormente da nossa inteligência, o que não significa que não haja umas mais estimulantes e estimuladas que outras. Talvez a minha esteja abruptamente parada em questões que não me conduzem a outro lugar se não à desordem e inquietação. Porque acidentalmente mexi os cordéis em sentidos que não entendo e melhor seria aproveitar a capacidade inata de compreender e aprender. E na minha prateleira os grandes nomes surgem como complementos de mim porque me revejo nas frases dos poetas e filósofos, nos poemas e contos dos grandes romancistas... Mas paro. Estaciono. Simplesmente porque me percorrem outras ideias, as que ainda não conheço, as mesmas que nenhum dos nomes adormecidos na minha estante pronunciaram, e perco-me. Provavelmente eu não tenho em mãos registos dos homens e mulheres que um dia ao acordar também se depararam com tais questões. E como sei isto? Exactamente porque a consciência me alerta. Se por um lado ela se traduz na minha conduta e nos meus actos por outro castiga-me e não me deixa dormir. Quando a tento manipular para me satisfazer com desejos falsos e ambições que não cabem no meu corpo sou impelida contra a realidade de tamanha pequenez e a cruel tarefa da escolha. Viver alicerçada sobre ilusões utópicas e verdades idílicas ou ser consciente de mim e dos outros em relação ao que sou.

Há alturas em que me atento da má consciência e habito na hipocrisia do meu quotidiano, pois não será a vontade de querer ser maior e fazer história o que me torna impassivelmente minúscula? Pois num futuro posterior a possibilidade de ser lida depois de ler será propiciada pela consciência que me domina na actualidade. Portanto eu sou a minha consciência e se numa tarde incógnita alguém desfolhar um livro e olhar para o que fui, nada mais verá que a minha consciência. Ali despojada e despida de nada. Mas nunca tenho a realidade do que sou, isto porque me convém, porque aperceber-me de mim obriga-me a desgostar-me e muitas vezes iludo a consciência e escondo-me do que sou. Porém não vou negar que há coisas que me agradam e quando digo que opiniões alheias à minha são-me absolutamente indiferentes caio na patetice de me iludir. Como poderia ser alheia ao que de mim deduzem? As opiniões incómodas incomodam mesmo e ainda que tente alienar-me delas não consigo ser-lhes completamente indiferente. Daí que a consciência por vezes produza somente enganos porque nos faz crer na ilusão do que é impossível, mas em outros momentos revela-se tirana e consome-nos na dura realidade da nossa frivolidade e egoísmo. É então que abrimos a pano ao inconsciente e o deixamos participar no palco da actividade diária. As vontades e desejos que outrora a consciência procurou delimitar e liquidar surgem como pensamentos involuntários que nos preenchem e também nos dão forma. Talvez a escrita seja um atalho no caminho da consciência, um pequeno desvio que nos deixa percorrer os trilhos "proibidos", e nela passamos a ser a voz consciente do nosso inconsciente.

É de facto magnifico ser consciente. É inquestionavelmente débil ter consciência. Confuso? A minha consciência deambulou vários dias até permitir que o meu inconsciente falasse.


(tudo o que aqui foi escrito é incerto mesmo para mim. A minha consciencia é de facto terrífica!)