sábado, dezembro 24

(Sem título)

Começa por saber quem não és. Melhor...começa por realizar que não és ninguém. Pensa no depois apenas quando compreenderes o sentido do antes. Sim, eu sei, às vezes a conclusão tem que vir acompanhada do precedente. É tudo um ciclo, estou certa? Não há buracos, há remendos. Não há quebras, há melhoras. Pode ser que sim ou pode ser que não, quem poderá dizer? Juízos são subjectivos, dependem do que queres ou do que cogitas não gostar. Não me digas que vem do coração, que é fruto do que sentes. O mesmo que dizes resultar de uma disponibilidade advinda do órgão que bombeia sangue para o teu corpo é apenas resultado do fermento dos pensamentos. Se gostas ou desgostas, assim o decides porque o pensaste. Ainda assim é bonito pensar que essa coisa situada no teu peito decide algo que nem tu sabes o que é. Mas posso quebrar essa tua doce ilusão? Mesmo que não autorizes já mo sinto a fazer, a desplantar o que desde criança cultivas, a destruir as justificações em prol da racionalidade... Mesmo essa é justificada. Sim, tens razão, o ser humano não é fácil...por isso não nos chegam 3000 anos para nos decifrarmos e mais tempo será necessário. A bem ver, eu e tu, todos os que conheces e os que hão de vir morreram sem a compreensão disto que apelidaram de "a medida de todas as coisas".

Todavia não desistas. Não desistas de ti, de mim, de nós e tudo isto que somos. Tens razão..somos nada perto da imensidão das coisas que cativam e alimentam o tempo e o espaço. Mas somos tudo aqui. Sem nós, tudo morreria. Connosco tudo vai extinguir-se. Planta, cresce, cultiva, vê acabar. A vida é mesmo isto? Não sei.. não me chegariam duzentos aniversários para o descobrir. Também não quero...enquanto não compreender consigo realizar, enquanto estiver errada posso buscar a procura, enquanto respirar os dias não estão extintos.
Mas tenho que te dizer que começo a quebrar esta utopia que me guia e me faz acreditar. Ás vezes para se ser lúcido tem que se começar por ser cego e, esta talvez é uma das minhas (não tão brilhantes) conclusões. As pessoas não podem mudar o mundo, o mundo pode mudar as pessoas. Diz-me que nós somos o mundo ou que o mundo é nosso! Eu gostava de crer uma vez mais nesta doce crença. Mas não é verdade, tal como outros embustes que nos rodeiam. Não temos pé assente aqui, tudo é uma passagem, não é? Desde sempre o ouvi mas nem toda a existência o creditei. Porém, eu sei que o tempo de agora é o florescer de amanhã, pode ser que não estejamos aqui para o testemunhar mas o mesmo não significa acomodar mos nos com a fácil consciência da evolução. Somos mesmo o futuro? De uma forma ou de outra o mesmo vai acontecer, sem consentimentos, sem esperas, sem acordos. Se bom ou mau só as criaturas poderão saber ou até mesmo sentir. Não há descrédito na minha ideia do sentir, claro que sentimos. Mas primeiro começamos por pensar. Não há nada de absoluto nestas palavras, o mesmo as destruiria. É isso...no Mundo há que viver no Mundo.

Não percebas hoje, nem amanhã e talvez nos anos seguintes.
Por agora "sinto" isto.

terça-feira, maio 3

Vá lá. Estamos sós. Eu e tu aqui sozinhos neste tempo infindável. Porque não me ajudas? Porque me deixas entregue a mim e à minha ausência, à minha incapacidade. Não é justo, sabes? É ingrata esta tarefa de ser sozinha, de abstrair o mundo sem companhia, de o fazer renascer em ti sem que me presenteies com a tua dádiva. Queres uma prova? é verdade, eu não consigo. Não sem ti, não sem ambos a tentar o mesmo. Sabes que eu tento ou se calhar descobristes que tento com fingimento e isso atinge-me como um míssil. Queres que admita a minha falência, pois então aqui despojada de falsos moralismos admito não conseguir. Claro a culpa é minha, toda minha. Porque não me traduzes os pensamentos? Sabes bem que não te acompanho, sabes que isto me deixa doente. A constante verdade de não se conseguir.

Venceste. Se pelo cansaço, não sei. Também não poderia esperar mais de ti, só vives quando te agarro, quando te dou cor e forma. Estás sempre na minha frente, como uma verdade achatada à qual não podemos escapar.


Não consigo. Admito, não te consigo fazer trabalhar por mim. Afinal és apenas uma esfereográfica. Sem vida, tal como eu quando não conspiramos em segredo, juntas.