domingo, junho 28

Confissões de alguém algures (mas não daqui)

Nada disto tem razão alguma de ser. Tudo o que se escreve por aí é odioso, fútil e erróneo. As pessoas passam demasiado tempo a tentar ensinar os outros do que não sabem, para fugirem ao que devem aprender. Quando disseram que a vida faz sentido porque se sonha incorreram na armadilha do ódio. Os sonhos são para quem tem tempo. Quem se demora e se ilude com esperanças tolos e impossíveis. Não sonho, espero somente e desejo. Preferem acreditar num futuro gracioso a encarar a doença febril do presente.Optam por sugar o doce presente a reviver o passado. O egoísmo humano leva-nos a varrer o passado em prol do auto-perdão. Apagamos as feridas antecedentes porque só estamos confortáveis com as recompensas momentâneas. Dizemos amar sem saber o que isso significa. Amamos por nós, para nos sentirmos bem connosco e esquecemos o outro - o amado. Quero-mo-lo sempre pronto, ali, despojado. Para que nos aproveitemos, para amarmos intensamente com o objectivo da auto-satisfação. E se aquele que julgamos também partilhar deste estado, desejar somente estar só? Que fazemos? Continuamos a desejá-lo connosco, junto de nós, faz-nos falta. Sempre nós, nós, eu.
Fingimos o que não somos porque queremos parecer o que desejemos reflectir. Achamos-nos desoladamente sós porque o receio de estarmos acompanhados acarreta consequências. Descobrirem-nos é a nossa própria morte. Nunca somos o que realmente nos define, pois o que transparecemos insurge-se como a auto-proposta da descrição. Então sugerimos o que queremos ser ou generosamente oferecemos o que querem de nós? Impressionamos o próximo para que se deslumbre e instantaneamente cansamos-nos. É difícil estarmos constantemente a corresponder a todas as expectativas que esperam de nós, aquilo que o mundo aguarda impaciente, e tão depressa nos aplaude como nos abandona. É um público ingrato, este mundo.
De tanto interpretarmos perdemos a identidade. Perdemo-nos de nós. E o que digo eu? Um amontoado de ideias tolas que nada mais são que desculpas frustradas. E o sol? Ah! Sim o calor do sol mantém-se firme. Tal como o vento que sopra. A Natureza é fiel. Acredito que muitos dos seres que habitam neste espaço, e que dotados de razão percebem que são o que desconhecem. Vivem em lugares inóspitos onde nem eles reconhecem o caminho. Mas há sempre alternativas. Enquanto uns aprendem a cair outros aprendem a levantar-se. É possível lembrarmos-nos do que nunca vimos? Acredito que sim. As lembranças que guardo das cidades que nunca visitei servem-me muito mais que as que conheço. E isto nada mais é que o desejo de fuga. Tal como tantos a opção de fugir para se permanecer auxilia nesta coisa mundana de se viver. Não definam as coisas linearmente. Há tantos mortos que vivem e outros que vivendo estão já feito enfermos na debilidade da consciência. Mas o sol está sempre presente. E aquele que julga estar morto está só à espera da ajuda falsa de um outro que lhe conceda a vida, porque na cobardia da força quedou-se de medo. Em muitas noites regresso sem nunca ter partido, e quando nos cobram a ausência não questionam se estivemos. Estive tantas vezes e em nenhuma, julguei ter avistado alguém.
Deixa lá que eu também finjo. E me acerco de falsas palavras para me perdoar. somos sempre os primeiros da fila, e admitamos que a linha de desesperados é interminável. Mas recolhemos o primeiro bilhete e mesmo preferindo-nos escolhemos agradar o outro, exactamente porque tal ideia nos conforta. Somos o outro sem a mutação corpórea.

Hoje escolhi ser isto, afinal não sou de cá.

Um comentário:

corpografite.blogspot.com disse...

Eu sou tu. E grande parte de mim és tu. E não me importo se achar-me-ás egoista, mas o quero e ter-te sempre comigo, mesmo que seja só para autosatisfazer-me. Tenho um pouquinho de tempo para poder sonhar que tu, tu sim, estarás e ficarás para sempre comigo. E quando digo que te amo é porque de tudo o que existe em meu redor e na minha vida, eu eleger-te-ei sempre como a pessoa mais maravilhosa que tenho. Adoro-te.