quarta-feira, março 4

Duelo de gigantes


A consciência é algo terrífico. Isto é absolutamente verdade ou não daria por mim, em diversos momentos, a tentar encontrar um escape para a teimosa voz mental que impiedosamente me sussurra. Há coisas que incrivelmente nos fascinam e assustam tais como a extensão do Universo e a dualidade da consciência. Graças a ambos eu existo e coexisto numa dimensão comum e partilhada, e no entanto graças a ambos alieno-me de mim e não sei que lugar ocupo e as razões porque o preencho no espaço. Felizmente a consciência é algo particular e a minha é apenas minha, abençoado seja quem não a tem e desesperado fique o que não possuí a consciência da consciência. Embora saiba que as confusões que se entrelaçam no meu cérebro não passam de meros devaneios tontos e inúteis para tantos, e para mim se assumam somente como confusos, é agradável certificar que passei ao estado avançado do animal e determinei-me por aquilo a que denominam ser um ser humano, um ser falante e pensante.



É estupidamente intrigante pensar nestas questões... todavia a graça da consciência faz-me obter o que muitos julgam possuir, a inteligência. Não me interpretem mal, acredito fielmente que todos dispomos interiormente da nossa inteligência, o que não significa que não haja umas mais estimulantes e estimuladas que outras. Talvez a minha esteja abruptamente parada em questões que não me conduzem a outro lugar se não à desordem e inquietação. Porque acidentalmente mexi os cordéis em sentidos que não entendo e melhor seria aproveitar a capacidade inata de compreender e aprender. E na minha prateleira os grandes nomes surgem como complementos de mim porque me revejo nas frases dos poetas e filósofos, nos poemas e contos dos grandes romancistas... Mas paro. Estaciono. Simplesmente porque me percorrem outras ideias, as que ainda não conheço, as mesmas que nenhum dos nomes adormecidos na minha estante pronunciaram, e perco-me. Provavelmente eu não tenho em mãos registos dos homens e mulheres que um dia ao acordar também se depararam com tais questões. E como sei isto? Exactamente porque a consciência me alerta. Se por um lado ela se traduz na minha conduta e nos meus actos por outro castiga-me e não me deixa dormir. Quando a tento manipular para me satisfazer com desejos falsos e ambições que não cabem no meu corpo sou impelida contra a realidade de tamanha pequenez e a cruel tarefa da escolha. Viver alicerçada sobre ilusões utópicas e verdades idílicas ou ser consciente de mim e dos outros em relação ao que sou.

Há alturas em que me atento da má consciência e habito na hipocrisia do meu quotidiano, pois não será a vontade de querer ser maior e fazer história o que me torna impassivelmente minúscula? Pois num futuro posterior a possibilidade de ser lida depois de ler será propiciada pela consciência que me domina na actualidade. Portanto eu sou a minha consciência e se numa tarde incógnita alguém desfolhar um livro e olhar para o que fui, nada mais verá que a minha consciência. Ali despojada e despida de nada. Mas nunca tenho a realidade do que sou, isto porque me convém, porque aperceber-me de mim obriga-me a desgostar-me e muitas vezes iludo a consciência e escondo-me do que sou. Porém não vou negar que há coisas que me agradam e quando digo que opiniões alheias à minha são-me absolutamente indiferentes caio na patetice de me iludir. Como poderia ser alheia ao que de mim deduzem? As opiniões incómodas incomodam mesmo e ainda que tente alienar-me delas não consigo ser-lhes completamente indiferente. Daí que a consciência por vezes produza somente enganos porque nos faz crer na ilusão do que é impossível, mas em outros momentos revela-se tirana e consome-nos na dura realidade da nossa frivolidade e egoísmo. É então que abrimos a pano ao inconsciente e o deixamos participar no palco da actividade diária. As vontades e desejos que outrora a consciência procurou delimitar e liquidar surgem como pensamentos involuntários que nos preenchem e também nos dão forma. Talvez a escrita seja um atalho no caminho da consciência, um pequeno desvio que nos deixa percorrer os trilhos "proibidos", e nela passamos a ser a voz consciente do nosso inconsciente.

É de facto magnifico ser consciente. É inquestionavelmente débil ter consciência. Confuso? A minha consciência deambulou vários dias até permitir que o meu inconsciente falasse.


(tudo o que aqui foi escrito é incerto mesmo para mim. A minha consciencia é de facto terrífica!)

4 comentários:

Nádia disse...

Que grande golfada...

Diogo Garcia disse...

Sim, depois de ler, é preciso respirar fundo. Está um texto eficazmente feliz. Gostei imenso.

simples-mente disse...

Sinceramente mor n sei q te diga. AAAmooo a tua escrita. ja sabes disso. =) Concordo cm a nadia e com o diogo. é preciso respirar fundo depois do o ler.. *

Diogo disse...

muito bom o texto..
tenho a dizer que durante o mergulho à tua consciência encontrei diferentes artefactos que inspiram a mente de uma maneira única.