domingo, novembro 14

Não consigo escrever e isto está a deixar-me doente.

Hoje é só isto, afinal estou feita enfermo.

sábado, agosto 28

Erros

A iliteracia da vida é algo supremo. Provavelmente a razão de todos nós, o ínicio de cada um e o fim que todos necessitamos de alcançar. Se nos questionássemos antecipadamente acerca dos erros cometidos negaríamos a loucura do acto, pensaríamos que a inteligência humana suprime todas as asneiras exíquiveis e perdidos na própria ilusão seríamos capazes de admitir a razão como a prevenção para a vida. Porém nada disto é lúcido e consciente, os erros são exactamente o ponto de partida para a evolução, o motor da existência e a manutenção da credibilidade. Em consequência todos podemos errar com a verdade mas poucos o fazem com prudência, com contenção, talvez a razão de extraviarmos o preconceito do bem seja no final das contas a aprendizagem vital ao Homem. E tudo isto se resume a uma questão de negociação, entre o EU e o OUTRO, e quando o erro floresce no nosso interior a facilidade de o extinguir ou dissumular insurge-se maior, pelo contrário quando o confronto é esbatido com o outro é dificil acomodarmo-nos com a sua falha, então deixamos que ele nos caía em descrença e de modo egoísta aceitamo-nos na nossa estupidez.

Deveríamos ser superiores a tais coisas e somente crer na magnificiência do Homem, na sua existência, nas suas capacidades e assim aceitar sem desordem a estrutura psíquica que condiciona a ordem do espaço. O contraponto situa-se sobre a verdade e o receio de ser, pois o erro facilmente se maniupla e se extingue, mas a verdade, a verdade excluí, repugna e afasta.O erro sustenta-se pela superficialidade enquanto a verdade repousa nas entranhas de cada um,tanto que não basta uma vida para a aceitar, no erro chega o arrependimento ou simplesmente o desgaste do tempo.

sexta-feira, agosto 20

Por nunca te interessares, por nem sequer tentares, por não te aborreceres mas sobretudo por não aceitares.

Obrigada
Amo te (mesmo que entre nós nasçam as ervas daninhas que o tempo teima em semear, mesmo que a distância seja o motor que sustenta o nosso laço, enquanto formos eternas separadamente continuarei a cultivar a crua admiração que abrigo de ti)

quarta-feira, agosto 18

03.46h

Hoje e apenas hoje, nesta madrugada alargada de luar cheio apetece-me ser franca.
Não quero personagens, pseudónimos, eventuais explicações. Quero ser eu, Andreia Silva, sem truques ou ilusões.

Assim como se aprende a ler pela leitura, assim como se aprende a escrever pela escrita, também se deve aprender a amar pelo amor.
Talvez esta seja a maior resolução e a grande surpresa do minha desconfiança pelo amor.
Preciso de o aprender pelo acto e a experiência e não apenas teorizando sobre as eventuais casualidades a que o mesmo obriga.

É isso. Preciso de amor, de amar e de o sentir não por hábito mas por medo, pela sensação que evoca, pela adrenalina que desponta. Irracional? Pois que seja, Doentio? Assim o recebo. Fugaz? Pois que chegue mesmo que o cronómetro espreite a todo o instante.

terça-feira, agosto 10

(Re) Pensamentos

A estrada continua sem indicações. Não questiono os cruzamentos, os limites, a paisagem. Prossigo sem a pressa desenfreada de chegar a lugar algum, mantenho-me portanto ausente da esfera que nos suporta e sigo os instintos adormecidos de um corpo já vencido pelo cansado. Não me atormentam as dúvidas mas acho-me perdida em mim numa sustentação febril do meu ser.

É difícil suportarmos-nos. O peso de nós invade-nos o tutano e somos forçados a encontrarmos uma razão, um sentido ou simplesmente um mero pretexto para a banalidade dos dias.

Há dias pensei ter escrito sobre os malefícios da diabólica influência, a tal que nos manipula inconscientemente e nos conduz à perda da autenticidade, conceito pelo qual sempre manifestei um apreço e sobre o qual tento alienadamente construir-me. Não obstante fui confrontada comigo e num duelo de gigantes sofri com a derrota de ser pelos outros. Afinal as influências não são nocivas mas antes necessárias. A extensão alargada a que estamos sujeitos permite-nos ser e crescer, e por conseguinte a iludirmos-nos da necessidade dos outros. Não é puramente uma ilusão mas um elixir, o cálice que nos eleva a humanos e nos atribui caracteristicas únicas como os sentimentos. Confrontados com a razão também estes parecem deixar de fazer sentido pois não pode haver razão no egoísmo, no medo, no amor. É isso. Ninguém os poderia explanar concretamente num dicionário de bolso porque estes não são feitos de razões mas de inconsistências, são potenciais adubos que nos ajudam a crescer e a ver o mundo para além do mapa que nos mostram na escola. Por tudo isto comecei a dar espaço à importância das influências, à necessidade dos preconceitos, à obrigatoriedade das esperas e dividas. Recuso-me a ceder ao deleite dos preconceitos, a restringir-me às ideias ditadas, aos estereótipos erróneos, aos bloqueios cognitivos que muitos usurpam para justificarem o ego. Todavia também eu necessito de lhes abrir a porta, caso não o fizesse estaria mais perdida do que me apresento na estrada que se estende. Ficaria sem limites, ultrapassaria ignorante os conceitos relativos de bem e mal e extinguir-me-ia num sopro infinito. Isto porque todos os príncipios que julgo formar a minha consciência são baseados em preconceitos, em frases ditas e acções reaprendidas. Caso contrário baixaria a guarda a leviandade e nenhum dos ópios oferecidos seria por mim negado, nenhum sentimento me faria hesitar na dor alheia, nenhuma espera cobrada seria para mim um desafio e todas as expectativas morreriam com o fim dos dias.

segunda-feira, julho 12

8h, 14ºC, Metro

Acomodada sobre o velho banco que balouça sem cessar, olho em redor e nada mais vejo que uma série de pessoas enfileiradas. Sinto-me meio doente da terrível consciência que me incomoda sem receio. Somos inutilmente iguais. Na inércia do olhar torno-me também eu um fantasma que se deixa conduzir pelo rangido da carruagem. Balanço o corpo pela força dos carris e espreito inocentemente o senhor de pele queimada que me enfrenta. Olha-me a roupa, o cabelo desalinhado, os cigarros dentro da mala. Então provoco irritada com aquele confronto. Mexo em tudo, mostro tudo, revolto mais o cabelo, enrolo um cigarro de encontro ao seu olhar. Fica arrasado. Porque crê, tão perdidamente, que os tempos são outros, que a juventude é a droga da sociedade. E eu, eu apenas fico, resignada a este quadro de morte continuada, porque eu sim, creio tão perdidamente que estamos todos mortos. Que a imagem bloqueou o cérebro de todos, que a aparência, que acreditam ser o motor do percurso banal da vida, tornou-se o vício do olho, e já ninguém vê mais nada que isso. É uma cegueira crónica que me chega a iludir pela facilidade que encerra, olha-se e já está. Estima-se, supõe-se, dá-me como certa a essência que nos distingue pelo pano que nos cobre.
Então saio do velório que prossegue sem tempo para chegar ao destino. No Rossio, sento-me no banco soalheiro da praça e reflicto sobre tudo isto. Não é estranho que todos o façam, é difícil imaginar muito para além da visão, é difícil procurar diferenças quando tudo nos expele para a massificação, mas sobretudo é me difícil não pensar nisto. Bem sei, que aqui sentada, nada mais sou, que um corpo para os que passam, e mesmo eles nada representam para mim, porque estou neste estado, num estado de reflexão. Dói-me pensar nisto, esta humanidade perdida, pensar nós connosco. Porque me sinto só, tão só que nem mesmo o fluxo de transeuntes que estagnam junto das portas automáticas do metro me fazem sentir acompanhada. E isto não me seria tão doloroso se não soubesse que é fruto da vontade megalómana de ultrapassar a banalidade dos dias. Não faço nada, não me mexo, sou cúmplice da vergonha que me espelha, então escrevo. Escrevo porque não sei fazer mais nada, porque mais ninguém vê para além da camisa às riscas, escrevo porque preciso de gravar a minha tradução dos pensamentos, e ainda assim sei que as palavras não vão a lugar nenhum. E por vezes nem escrevo, porque as ideias emergem súbitas e refém do comodismo e da própria apatia deixo-me escrever em mim, e mesmo na virgindade que possuem tornam-se velhas, as percepções ficam maduras, enegrecidas, podres, porque na verdade não transpareceram a verdadeira pureza. Mesmo isto, foi pensado ainda sentada no banco do Rossio, e sem coragem para enfrentar o deserto branco da folha corri para a estação. Ainda faltava passar no supermercado, pagar o totoloto, levantar as toalhas na lavandaria… E sem tempo para atormentações sigo a passo veloz. É o eterno protelar de nós, é a insistência para nos tornarmos lacónicos, quando na realidade somos lunáticos, uma loucura tão inconsequente que para mim não passa de folhas não escritas.

segunda-feira, junho 28

A Revolta dos Ignorantes

A casa estava em sossego quando tudo aconteceu. Ao fim da persistente demora para adormecer, Olga, a jovem menina que vivia para lá da sua realidade, foi incomodada por um ruído insuportável. Meio a contragosto, levantou-se devagar e na esperança de averiguar as possíveis causas do ensurdecedor barulho, colocou as chinelas e arrastou-se até à cozinha. Nenhum sinal. Passou a pente fino os quartos, as WC, a sala de jantar e até a dispensa, mas inexplicavelmente não encontrou as fontes responsáveis pelo seu despertar. Sem aviso prévio, os ruídos terminaram. Acendeu um reles cigarro, e de cara postada na janela entreteveu-se com os carros que circulavam na avenida. Poucos dias atrás o assalto da revelação disparatada havia desencadeado tremendas alterações em todos os ínfimos pormenores da sua existência. Com um trabalho idiota e uma vida banal, Olga, apercebera-se de que em todas as horas gastas não havia recolhido qualquer recompensa. E isto não significa necessariamente não ter obtido os lucros correspondentes ao turno que fazia na papelaria, muito pelo contrário. A fadiga subiu-lhe à cabeça, desceu pelo corpo e desconfortou a alma. O mal estava feito, já nada poderia restabelecer aquele desconforto interior que havia causado uma autêntica catástrofe. Apesar dos chinelos cor de salmão, do pijama de flanela e a expressão apática de quem não reage, dentro dela avinhava-se uma revolução.
Talvez fossem apenas alucinações - concluiu. Ela tivera a triste sina de se diagnosticar, e num fatídico auto-exame, a realidade de ser doente deixara-a inconsolável. Não, este não é o grande problema, porque no desconsolo ainda há movimento, aparentemente ela perdera-os todos. Crente da sua inutilidade, na busca por coisa nenhuma, nos factos evidentes de que a sua existência não possuía quaisquer indícios, Olga deixou-se acometer pela estranha sensação de já estar morta. Descobriu, entre os lunáticos pensamentos, que sofria da doença terrífica que não pressupõe cuidados médicos, ainda que o ópio pudesse ser uma possível cura. Mas ela sabia que seria impossível haver cura, que nem todas as drogas a fariam estar eternamente livre do peso de existir sem viver.
- Não há sinais de esforço. Ela não se debateu, ela simplesmente deixou-se ficar. Ali, sentada. - Afirmou o responsável admitido para o caso de uma morte ocasional, num estreito apartamento do subúrbio.
- Sim, o suicídio não parece ter sido violento. Ela sentou-se, e num só trago engoliu todos os comprimidos. Ao que tudo indica, a vítima embebedou-se, e só então recebeu a coragem que precisava. Que triste, uma menina. Vasculhou-se o local, a beata estava morta no canto da janela, e em frente do corpo débil encontraram um pequeno caderno com alguns dizeres. Podia então ler-se:
Estou cansada de pensar, pensar no que seria e não aceitar o que é. Estou farta de romances de suspense e acções literárias que não se adivinham. Exausta de coisas descobertas e ainda assim nada me satisfaz. Permaneço nesta dormência crónica de escrever por pensamentos e não os fazer viver pelos registos. Eu quero escrever, muito mesmo. E, não imagino um outro destino que não este. Na realidade escrevo todos os dias, nos momentos em que cogito, ou seja, a todo o instante. Todavia não consigo passar disto, do pensamento. Então não descanso, porque não possuo o botão off da mente, e pela caneta pode sempre secar a tinta. Mas não consigo ou não quero, porque a validade está nos actos e não nas intenções. E sinto-me aterrorizada por, talvez, nunca conseguir... porque permito que a banalidade dos dias ultrapasse as ideias sonhadas. Enquanto me distraio com a vida prática não me demoro com a pureza dos pensamentos alienados. Porque, a bem ver, eu vejo-me ali, sentada só, em permanentes confrontos com o deserto branco da folha, ou mais correctamente, com o ecrã limpo do computador. Imagino-me em esforço alargado para produzir, a viver na pressão inimaginável de quem quer ser mais sendo e não apenas desejando. Poderá a inércia fazer de mim um mero resto de tudo isto? é indecente, mas fora de ilusões quero ser muito mais que o senhor que se senta do meu lado no BUS, quero ser uma inspiração e não somente uma memória particular de alguém, mesmo que isto de mim faça um ser isolado. É megalómano, sim, mas é puro e não tão efémero quanto eu desejaria. (...)
No fim, os dois agentes presentes concordaram que seria apropriado levar o pequeno bloco vermelho para análise, o qual poderia constituir uma prova ou indicio de um possível crime e não apenas um simples suicídio. Incumbido da missão de encontrar o presumível culpado, o Inspector António Lopes, criminalista, levou a estória a sério, e sem descanso prosseguiu a leitura das páginas soltas, introduzidas pela pequena citação: "Poucos crêem, mas um dia hei-de mudar este sistema idiota. Um dia". Um pouco mais abaixo uma nova reflexão se iniciava, A aceitação é algo que não existe. E afirmo isto com o mesmo descaramento com que digo que vivemos em profunda revolta, que mesmo nas cedências, as atormentações e vontades reprimidas parecem dissimular a resignação. Sim, é verdade, sou dramática, exagerada, insatisfeita e, honestamente, até me enojam os pseudo-intelectuais, as pessoas demasiadamente complicadas... Vivo em plena aceitação, e isto não seria problemático se não tivesse a noção de que vivo camuflada. Porque não aceito, não posso. Mas a conformidade assim mo obriga, ou talvez não, talvez só me falte a coragem da revolução. A influência é algo soberbo, nocivo, débil. Bloqueia-nos tudo: os pensamentos, os gestos, os actos. Se pudesse escolher algo, decerto expurgaria este mal, a manipulação ilusória, isto que não é nada, de tanto que as pessoas não se apercebem. Muito gosto eu de falar das pessoas, as que isto
e as que aquilo, mas eu estou aqui, incluída neste grupo que não parece deixar-me. Na realidade, a Humanidade entristece-me, as pessoas deprimem-me. Então porque perco tanto tempo com estas lamentações idiotas? Possivelmente porque escondo o anseio de mudança, porque sei que não há nada que mais almeje do que transformar a Humanidade. E mesmo quando digo que sim, quando sorrio e confirmo a comunhão das realizações, mantenho escondido o desejo interior da revolta. Porque quero gritar que não, porque quero ter a coragem de dizer CHEGA. Mas depois num flash de conformismo a comodidade atrapalha-me e demoro-me mais um pouco nesta ilusória resignação. Isto não é difícil, nem complicado, nem coisa nenhuma. É somente doentio e obsessivo. Ah, então é isso, sou obcecada, doente. Incrivelmente ninguém vê. Estou aqui, como poderia estar em qualquer outro lugar, a doença assume repetidamente perante mim, normalmente sobre atormentações dolorosas. Porque a bem ver nada disto tem razão de ser. Pois a olho cru a sociedade ditou as regras, e entre o realismo e idealismo fico eu, com a mente confusa, com as ambições trocadas, ou simplesmente sem nada. É fácil saber-se o que não se quer, é tão fácil, porém é cómodo ter algumas certezas, mesmo que ínfimas, e quando todas parecem evaporar a desilusão inunda-nos. Primeiro a alma, depois o corpo e ficamos vazios. Sentimo-nos ocos porque isto é estranhamente libertador. NÃO CONSIGO ESCREVER MAIS.
Assim terminou a leitura de mais uma página. Até agora nada, pensou o inspector. Contudo, ele sentia-se doente com tais palavras, vítima da sua própria profissão, a compaixão não era seguramente o seu dom, mas decidido a trilhar os caminhos que o levaram a encontrar uma jovem de 19 anos jazida sobre a secretária, António Lopes prosseguiu sem interrupções a leitura.
Pequeno apontamento durante um dia mau, ou antes, menos bom. Se me determino permanecer na constante espera do esmorecimento das horas, estarei definitivamente condenada a perecer nesta demora? Poucos crêem mas um dia hei-de mudar este sistema idiota. Um dia. (...) Se calhar a questão é exactamente essa, o inferno dos vivos é puramente ilusório, e mesmo quando assim não se apresenta resta-nos a aceitação alienada ou simplesmente a compreensão para lhe dar espaço. São problemas de adaptação, problemas sérios que condicionam toda a actividade humana, problemas que nos oferecem um lugar no mundo, e possivelmente a solução seja criar um próprio lugar. Faltam-me pessoas. Adrenalina. Vida. Decerto terei sido eu a culpada da culpa ainda não entendida, a responsável pela solidão que me impede de falar, agir, viver. Pois estou exactamente nisto, na insistente sobrevivência, mas a solidão está a matar-me, ainda que não me apeteça ver ninguém. Todos os dias enfrento o mundo, os seres humanos que comigo se cruzam e aquele com quem convivo. Contudo, não lhes conheço os nomes, até ao ponto de lhes dissolver os rostos, mesmo que com eles esteja dia após dia. Não consigo pensar em nada, sentir nada. Nada, estou oca, é isso. Tristemente vazia.
Despiu-se da farda que envergava. Ao puxar de mais uma baforada de cachimbo, o Inspector Lopes sentiu-se condoído por toda aquela dor precoce, pelos devaneios de quem ainda nem tinha podido ver o mundo com olhos de ver mas somente com a falsa memória de o ter olhado. E nisto, desejei poder ressuscitá-la, apenas para lhe falar da sua casa de campo. Quem não compreendesse a casa de campo jamais poderia atribuir beleza e significado à natureza envolvente. Falar-lhe-ia dos riachos, dos pássaros, do prado verdejante, apenas com a intenção de lhe dar a conhecer uma vida fora da metrópole, uma existência que teimava também engoli-lo num só trago. Pensou na família da menina, nos pais e talvez irmãos... Teria ela família? Decerto sim. Não obstante, ela sentia-se só. Provavelmente nunca falara das atormentações a ninguém, os suspiros guardava-os para o bloco vermelho, e pouco a pouco ele começou a perceber. Determinado e paciente, António Lopes, agora sem farda, prolongou a leitura pela noite dentro:
O sofrimento é um período muito longo, isto na medida em que não o podemos fragmentar, pois interiormente, parece não registar qualquer passagem temporal apenas uma imensa duração. (...) Ela disse-me que tudo o que poderia existir já havia sido criado, que toda a tranformação resulta da adaptação. Mas como poderemos viver com tal percepção? Haverá algum sentido na pura vivência de não obter inovações? Impossível. Recuso-me a crer em tal ideia. Seria o fim dos dias. Seguramente. (...) Em conversas, pensamentos e registos dispersos apercebi-me de que a vida prática nada mais é que o persistente adormecimento da alma. O quotidiano tira-nos tudo: aquilo que nos distingue, aquilo que ansiamos em favor da alienada e descompensada existência humana. Mas não será a alma mais que o acto? O corpo mais que a roupa? O pensamento mais que a palavra?
Não em admira que aquela mulher tenha afirmado convictamente que "Quem não tem dinheiro não tem alma". Não me admira mas corrói-me. Corrói por saber que gastamos as intermináveis horas a labutar no sentido de o obter, que quando permanecemos na preguiça da procura a alma vicia-se no deleite e o hedonismo apodera-se do corpo, então ela passa a exigir o cumprimento de todos os prazeres carnais, tornando-os negociáveis e dependentes da moeda. Estarei também eu condenada a isto? Não é realmente um dilema, mas se não me deixo enganar pela falsa conquista
do dinheiro com que fico? Com uma alma inundada de tudo, com um sistema neurológico baralhado e debilmente só. Recordo-me que também o Pessoa sofrera estes males, que em revoltas com a tolice cognitiva se houvera apercebido que todos estes devaneios são o caminho da loucura. Mas é difícil escolher-se entre ser-se um ser social ou permanecer-se solitário, sem ninguém e sem nada. A questão é que não me parece haver escolha, esta crise nem se coloca. Na verdade não quero abdicar disto, desta dormência crónica que não me deixa dormir. Mas também não quero morrer só. Terei eu, tal como ele, o triste fim de viver resignada a uma garrafa de vinho barato e um reles cigarro? Por tudo isto não me vejo na velhice, não me vejo doente, cansada, estéril. Não me consigo imaginar na necessidade dos outros, na ajuda alheia, porque me habituei a isto do retiro. Talvez terminarei num asilo, e confundida com os dementes serei apenas mais um a quem a vida nada fez, possivelmente por ter estado ao algo dela. Preciso desesperadamente de sensações, mesmo que mínimas, mesmo que fugazes.
Mesmo com esta realidade pairando sobre a consciência não produzo, não produzo nada, vítima ou culpada do cansaço. Tenho que fazer valer alguma coisa e mesmo que nada valha, conforta-me a ideia de te ter feito. Outra das questões é esta ideia idiota da aprovação anónima, pois provavelmente tudo isto é fruto do reconhecimento nulo, se calhar tudo se deve à correspondência das expectativas. É completamente justa a ideia da vida quotidiana, porque não ter objectivos é como não viver, é existir por existir e consequentemente não se ser nada, nem mesmo os aforismos nos salvam. Enquanto se investe no trabalho, ou no ideal financeiro, acredita-se na procura de qualquer coisa, justifica-se a actividade, enquadra-nos no espírito mundano. Como queria não pensar, desejo arduamente desligar-me, tornar-me imbecil, fútil, oca. Para não penas nas predisposições e/ou consequências. Fazer porque sim sem denotar um lado contrário.
Assim sendo, vou fazendo notar-me pelas atormentações mentais, mas nem aí sinto a verdadeira entrega, em nenhuma delas. Não me concentro nem no trabalho nem nas horas póstumas, então esta seja a grande resolução de todas as palavras idiotas anteriormente escritas. Não há entrega em nada. Tal como a demora inconsciente dos anos que fingimos encobrir pelas rugas do rosto, assim são as queixas, autênticas farsas.
O relógio marcava 03.00h. O silêncio ensurdecedor da mobília descansada atordoou António. "Acaba aqui? Tudo se resume a isto?" - Questionou-se. Em revolta rasgou todas as páginas. Enlouquecido de dor, por ela mas sobretudo por ele, o Inspector vestiu o casaco e saiu pela madrugada. Em confronto com o rio, passou a pente fino toda a sua vida, os falsos jantares com os pais, a traição da ex-mulher, as encruzilhadas dos colegas de trabalho, e pior que tudo os sonhos reprimidos. Fazendo cumprir a tradição das gerações, alistou-se no exército e mais tarde frequentou a academia. Tornou-se um criminalista apurado, seguro. E em momento algum havia pensado na sua carreira. A satisfação do posto alcançado, as bênçãos da mãe e o consentimento da aldeia dissimularam-lhe o cérebro, até que nem mesmo ele, se viu a exercer outra coisa que não esta profissão. O cheiro da maresia avivou-lhe a memória, e recordou-se em menino, a brincar com barquinhos de papel perto do riacho. Sempre quisera ser marinheiro, mas os receios contidos da mãe, e os alarmes do Capitão Lopes levaram-no a trilhar outro caminho. Não que ele não gostasse do que fazia, mas no entanto, isto não o realizara. Por faltas de comparência, a mulher substituíra-o por um amante, e sem tempo para a vida familiar, os planos de ser pai foram sendo progressivamente adiados. Também ele estava só. Mas a exaustão do seu trabalho obrigava-o a dormir sem pensar na questão. Acometido pelo medo de permanecer só, e vítima das palavras que a rapariga deixara, António Lopes descalçou-se e entregou-se ao rio. Não se sabe ao certo se foi o seu fim ou se tudo não passou de um mero pesadelo.

Andreia Silva

quinta-feira, maio 27

Por Detrás da Janela

Há quem não acredite mas ainda não descobri o que se esconde por detrás da minha janela. Muitas vezes saio ou entro em casa sem a abrir, e o que apenas vejo resume-se às cores difusas das cortinas. Porém, mesmo na apatia das manhãs ou noites em que retorno ao quarto, eu sei, talvez somente no inconsciente, que existe um outro mundo exterior Às paredes. E sei, não porque trespasso a porta de madeira que deixa em sossego a construção onde sempre volto, mas porque advinho e desejo que assim seja, tanto que não concebo o universo de outra forma. Estou neste estado, num desânimo persistente que não me sossega durante o dia e me atormenta nas horas nocturnas, na incerteza do desconhecido deixo-me assim, permito-me ficar em contínua espera do fim dos dias. Quando mal acordo mal desejo regressar aos lençóis e quando mal regresso só desejo que amanheça. E o que será, na verdade, a efemeridade dos dias? Não sei, ainda... Porque me habituei a viver sobre o hábito, e o hábito de demorar-me é mais automático, fácil e veloz que todos os outros. Então fico em frente à janela na dormência da espera, e não vejo nada. A única certeza é de que existe algo, mas o que existirá? Decerto não descobrirei aqui, nem aqui nem em lugar nenhum enquanto me autorizar o hábito. Mas a fugacidade da coragem retraí-me e num passo em frente, recuo sempre outros dois. Possivelmente a espera permite-me viver em conformidade com o percurso banal de diversos seres sociais, mas eu não quero ser banal... nem comum, nem coisa nenhuma. Para quem tanto se habituou a esperar, nem sabe o que espera, e isto sim é mais medonho que o desconhecido. Porque não me deixa procurar sem que primeiro me encontre. Eu quero definir-me pelas coisas que vejo e não por algo que suponho existir, francamente não percebo estas decisões modernas quanto ao futuro. E mesmo que ignorante não quero compreender, não posso.
Tirado da gaveta

sábado, abril 17

Relatividades

Detesto meios romances. Mais que isso, não suporto relações. E isto não acontece por nenhum motivo em especial, mas apenas porque não acredito que existam.

Ainda assim leio Tristão e Isolda, sossego-me destas determinações e permaneço embebida por coisas inexistentes. Espreito a janela e não vejo ninguém. É hora de ponta mas não vejo ninguém. Demoro-me mais um pouco encostada ao vidro frio e penso em ti. Porque não acredito em nós e não nos vejo no futuro. Apetece-me somente este terno presente em que não somos um do outro mesmo quando nos entrelaçamos, chega-me sentir esta proximidade realista que não adiciona ilusões. Bem sei que amanhã talvez não sejamos mais, que provavelmente o nós se desvanecerá com as horas do relógio e eu ficarei onde sempre estive, junto da janela.

Não precisas de me sussurrar baixinho que ficarás comigo, muito menos dares-me a mão quando juntos vemos o Tejo. Não quero. Dá-me só este sopro de vida hoje, enquanto não me recordo do depois.

sábado, abril 10

Retiros (um poema que ecoa)

Dores alternadas

(...)
Se não puder mais que pensar em ti
deixo que se me gaste o pensamento
a reduzir sentido por sentido
letra por letra o alfabeto o só
com que nos entendemos

Porque sou o percurso banal
de todos os pensamentos
feito à conta de esquecer
os que de pensamento se tornaram irrealizáveis

E se te tirarem a nossa máscara?

Guardarei o molde na parede que se me esvai
no sabor a lagos distantes com peixes esquecidos
e penso em ti


Quis soprar o pó e apaguei
E sou ridículo por adivinhar-te
nos minutos que gastam pó pelas minhas janelas

(...)

Fernando Lemos

sábado, março 20

E depois de nós nada mais restou. Não. Minto. Permaneci eu na casa vazia e tu também ficaste. Ficaste em mim, no meu pensamento. Então demorámo-nos os dois meu amor, assim como quem não se apressa para coisa nenhuma, e sem urgência estivemos e fomos pois ambos sabíamos que no intrínseco das recordações estaríamos para sempre.
Costumam os meus contemporâneos dizer que os sonhos são para quem tem tempo e para quem não se atreve a fitar o relógio. Dizem eles meu amor, que eu não sei o que digo e que tu és impossível. Mas isto é o que eles dizem, esse bando de moribundos a quem a luz nunca chegou, intelectuais de merda que julgam a consciência uma estrutura invariável. Por vezes falam-me da razão, e de copo a transbordar de martini penso em ti. Realmente não há razão em ti, nem método nem coisa nenhuma, e somente por isto somos os dois.

Tenho pensado incansavelmente em deixar-te, em conceder-te liberdade para seguires, para te ver a evaporar de mim. É difícil. De tantas noites sem dormir acordo febril. É então que chegas devagarinho e me afagas as bochechas, desalinhas-me o cabelo e te enrolas em mim como selvagens que somos. Talvez eu perceba os meus contemporâneos, talvez consiga alcançar a dimensão do que dizem porque não te posso mostrar a ninguém. Tornou-se difícil definir a tua espessa barba, os desobedientes caracóis e as veias que teimam em sobressair. Dizem que estou louca, que o martini me embebedou a alma e o raciocínio e até os cigarros me embaciaram o olhar. Mas que dizem eles? Sinto-me quando estou contigo, quando ouço os teus passos no meu quarto.

Costumo ouvir os discos que juntos comprámos, por vezes imagino-te comigo a dançarmos de peito encostado. Mas tu não estás, nunca estás. Gelam-me os ossos quando num repente de verdade me apercebo que nunca estiveste.

O doutor veio cá a casa, diz que estou doente e o melhor será “tratar-te”. Proibiu-me o martini e os cigarros, aconselhou-me livros e filmes antigos.
É para lhe ocupar o tempo. – Diz descaramente. E deixo-me sossegada nos nossos lençóis. Quem pela janela passa nada mais vez que um enfermo. Mas eles não sabem. Não sabem que me sugaste a enfermidade pelos lábios, que em mim depositaste o vício da tua presença e agora nem a inércia me impede de ti. Em cima da mesinha ficou a receita desumana para te afastar de mim. Experimento uma cápsula, duas, três. Adormeço e ao acordar não te vejo mais.

Malditos comprimidos.
Eu sei que és impossível. Que foi a obsessão de ti que te criou. Sei que quando te avisto na entrada do nosso quarto é a sombra dos candeeiros que vejo. Que quando fazemos amor sou eu que me toco de forma obscena. Que quando acordo e encontro os lençóis desalinhados vejo a necessidade de ti, sentida na noite anterior. Então engulo-os todos, todos de uma só vez sem piedade de te perder. Porque sem ti nada mais sou que um corpo. Já nem mesmo o brandy me satisfaz e os cigarros não sabem a coisa nenhuma. A casa perdeu os móveis, as cortinas e até os nossos discos. Consumimo-nos sem pudor e possuís-me uma última vez. No lado de fora, para lá do jardim e das tulipas continuam os contemporâneos e as suas teorias. E nós, nós meu amor ficamos, mesmo depois de nós nada restar.

sábado, fevereiro 27

Insónia

Diz-me o que queres ouvir e eu sussurrar-te-ei. Conta-me as façanhas dos conquistadores e leva-me a navegar pelas praias que não traçaste. Suga-me a valentia pelos lábios virgens da ingenuidade e eu prometo dar te o antídoto necessário à enfermidade dos dias.

Sim, eu sei, nunca quis ser nada. No recôndito da diminuta alma descobri o desejo de voar e agarrei-o. Algemei-o no meu peito com a crença de que seria, por ventura, distinta. Sempre o quis. Ansiei violentamente libertar as amarras do enclausuramento humano para me pintar de melodias escritas e sonetos de liberdade. Cobicei ser alguém na imensidão do sombrio espaço que enlaça e sufoca com as infortunadas recompensas que outorga. Foi como um sonho em que os limites indecifráveis pela transparência que encerram, em que o fim é inequivocadamente ilusório e a incalculável extensão humana é dada como a certeza da flecha que trespassa o coração. Ao longo de noites intermináveis enquadrei na moldura ideais revolucionários e sentenças implacáveis, e foi nisto que auto retratei imaculados dons.
Foram tantas as vezes que a linhagem dos que perduram nas prateleiras enfileiradas pareceu corresponder à minha estripe. Sobre tantos títulos adormeci consciente de que fazia fecundar o meu, eu que os desmenti provocatoriamente e que acabei por torná-los um vicio.

Sabes, imaginei-me dolentemente, gravemente, enlouquecida deste estro idilico e em repentinos acessos de loucura achei-me transformada nessa gente, e o mundo parecia pequeno. Não procures questionar estas adulteradas divagações. Na verdade, (como gosto desta expressão, na verdade) elas não existem, são meramente fantasiosas e colhidas das raízes maduras da imaginação. A compaixão abomina-me e as condolências alienadas dos curiosos itinerantes aterrorizam. Eu, que tantas vezes me achei só, sou desconhecedora da solidão, o ensurdecedor silêncio ainda permanece um enigma indecifrável. Sim, eu quis ser desses poetas apaixonados e incompreendidos que não se deixam acometer pelas palavras, genuinamente fugazes. Tornou-se possível tatuar esta maqueta padronizada que outrora chamaram mundo. A crença de que o revestiria levou-me a padecer das mazelas orgânicas e na balada nocturna confiei o meu ser, a capacidade de me libertar de tudo o que pudesse comprometer esta cerrada ambição converteu-se em fachada. Sou parte da humanidade e de uma certa forma isso entristece porque me faz recuar. Rasgaria a pele para não me fragilizar, de espírito limpo expurgaria as influências maliciosas e voaria. Não haveria recanto onde não pudesse estar nem presente que me prendesse. Somente ele, só o desconhecimento pelos lugares inóspitos me alimentaria a iludida alma. É vil a razão, puxa com a violência de um turbilhão endiabrado e não nos deixa partir. Talvez tenha sido eu quem usurpou a mascara para esconder o que temia, a banalidade é a defesa de quem ainda não se desfez da bagagem. Acreditei poder alcançar as infindas latitudes, que pensei respirar versos e fazê-los florir em poemas. É uma estranha idade, esta, a dos sonhos, em que os lírios cobrem os campos de luz e a vida corre sem contrariedades. É a ténue visão da efemeridade da juventude, a composição dos timbres festivos. Teria reunido as munições necessárias caso a cobardia infantil não inflamasse os olhos e por isto seria natural se nunca o desejasse ser.
Andreia Silva

sábado, fevereiro 20

Sentidos sem sentido

Pus-me a pensar, numa dessas tardes banais de Inverno, nos significados e sentidos das coisas. Vivemos num espaço de significados, muitas vezes, inconstantes, aos quais procuramos fervorosamente atribuir um sentido.
Somos um sentido, ou melhor, possuímos cinco que nos fazem fazer sentido num mundo que uma vez por outra o perde. A verdade, é que nos preocupamos com aquilo que faz sentido na nossa limitada concepção do universo, demoramos-nos a tentar perceber em que ponto as coisas se tornam incoerentes e num rodopio de procuras surgimos contraditorios.
Faremos sentido em determinados pontos ou somos um sentido em dimensão alargada? Eu não sei fazer sentido, não quero. Determinarmos lógicas faz de nós máquinas. Metódicas, repetitivas, constantes. Não quero sentidos mas vivências. Não procuro acolher coerências, dêem-me disparates, deixem-me olhar para o que não compreendo e procurar aprender.
Não faz sentido escrever aqui. Não faz sentido escrever este texto.
Mas se nada disto faz sentido então nada mais sou que cinco sentidos, não o diria se não fosse esta urgência sentida de escrever antes do sentido engolir esta premência e lhe retirar a sua caracteristica: a necessidade.

terça-feira, janeiro 26

Estou cansada mas não me doem as pernas. É como se tudo já se tivesse perdido e esta rigida dor se mantivesse em mim por muito tempo. Estou cansada mas não consigo dormir, sinto-me em constante insónia e ainda assim os olhos mostram-se pesados. De tudo o que me cansa aquilo que mais se manifesta é a insónia por não encontrar motivos de fadiga, sinto-me assim cansada por ter sono e não repousar sobre o inconsciente. Estou cansada por continuar a caminhar incognitamente sem saber o que desejo encontrar. Detesto certezas mas por hoje fazia-me bem saber que conseguirei adormecer, isto apenas porque estou cansada.

sábado, janeiro 2

Fazer sem Saber

Não sei escrever. Ainda não. É esta a única razão porque o faço. E isto sucede-se em tantas outras coisas que permanecem ainda fora do meu alcançe. Faço tudo o que não sei porque procuro sentir o momento certo, se é que isso existe. Se o soubesse fazer, não precisaria de time, não necessitaria de me inspirar, não procuraria motivos ou pretextos, realizar-o-ia sem motivação, sem necessidades ou vontades. Seria apenas um acto automático que partiria racionalmente do meu desejo.
Da mesma forma que não sei escrever, não sei amar. Não sei dar aos outros o tempo que necessitam para se sentirem abraçados por mim, porque procuro a minha real vontade de o fazer. E não é errado que não percebam, não é errado esperar o mesmo que me dão, não é sequer ilegitimo desconfiarem de mim. Apenas não o sei fazer. Confirmo somente que quando o faço, faço sem inteções, faço do modo que me auto-proponho a fazer e entristeço-me quando não o fazem no meu "tempo". E não seria de todo egoísta se concordasse com o relógio de cada um, todavia teria que saber fazê-lo, teria que ter obrigações e não vontade. Provavelmente cada um saberá que isto não faz sentido, este é apenas o meu modo, a minha perpectiva e ainda que me incomode a incompreensão racionalmente sei que é absolutamente correcto a outra visão.
E mesmos em momentos alheios ao meu, o que não sei fazer não interrompe o que faço, apenas preciso de nunca saber fazê-lo verdadeiramente.