sábado, dezembro 27

Palavras

Palavras. São bonitas, ténues, duras, difíceis, definíveis, ritmadas. Esboçam o mundo dando lhe voz. Combinadas formam frases que se transformam em texto. Intemporais? Marcas de tudo e de todos. Ficam registadas, cravadas e guardadas. Permanecem em nós. São o que somos. Dão corda ao pensamento e alma à imaginação. Produzem atitudes, timbres, intenções, marcas, desejos. Mas nada mais são que conjuntos de letras ordenados. Definem, classificam, inscrevem. Eu sou feita de palavras. Mas não só. Elas não me pertencem da mesma forma que me compõe. Ditas ou por dizer? São sempre palavras. Então porque as perdemos nos momentos indecifráveis? Porque elas fogem. Fogem, pois também somos parte do que não conhecemos, do que não esperamos, aquilo que as palavras não alcançam, o mesmo que o toque e o olhar conseguem dar expressão à incapacidade das palavras. As palavras fascinam-me mas por vezes surgem fugazes, vazias, exíguas. Não há palavras. Mesmo quando o leque é tão variado, tão imenso. Por vezes pronunciadas a mais, por outras são sentidas como carências. Mas fica sempre tanto por dizer, e tanto se diz. E encontro mais no silêncio do que aquilo que poderia ser entendido nas palavras. O silêncio diz tudo ao mesmo tempo e por isso pode tornar-se incompreensível. São palavras mudas que significam e vozeiam caladas. É uma dualidade incapaz de satisfazer os prazeres de todos. Traiçoeiras, mentirosas, incapazes. Sim são sempre palavras. Opções. Pensadas ou impensadas. Todavia para além delas surgem as imagens, os gestos, as poses muito mais do que as palavras podem definir. Incompletas? Prefiro acreditar que sim. As palavras não me chegam.

2 comentários:

T. Geiroto Marcelino disse...

Palavras. Eu própria dou tanto significado as palavras, mais que o que elas tê; dou-lhes, assim, tanto signfiicado, porque vivo no mundo virtual das palavras...principalmente das pensadas. E sabes o que eu acho das minhas palavras? (um dia escrevi impulsivamente num pacote, porque não podia esperar até encontrar uma folha de papel) Que a minha palavra não vale nada, não vale dita, nem escrita nem pensada, vale só quando está calada. Por vezes acho isto.
Mas sabes o que também acho? Que arranjo sempre maneira de falar de mim quando tenho de ouvir/ler os outros - lamento.

Também já te tinha dito o que acho das palavras, enquanto sons e talvez ainda faças uma vaga ideia da minha própria ideia das palavras enquanto imagens. Sempre dei muito valor a esses dois aspectos, atlvez seja a minha perspectiva das artes visuais a falar mais alto. Mas de facto, impressiono-me sempre e de cada vez que repito uma palavra até ela perder o sentio, tantas vezes até que seja só um som que começo a não reconhcer.


P.S.: as tuas palavras estão cada vez melhores; este é mais um texto muito bom. Daqueles em que poderia destacar frases que gostei especialmente. Mas afinal gostei de tantas que teria de citar o texto quase todo.

simples-mente disse...

Palavras. As palavras de uma frase. As palavras de uma fala. As palavras de um texto. As exdruxulas, agudas, graves. Palavras... As palavras de um silêncio. As palavras de um beijo. As palavras de um gesto. As palavras de uma face. As palavras que me tiras-te quando li as que escreveste. =)

Continua a roubar-me as palavras, não me importo. Desde que continues a escrever com estas palavras maravilhosas. Amoro-te (l)*