quarta-feira, dezembro 17

Espera (título plagiado)

"Espera"
Botão! Serás corola e esperarás ser fruto...
Serás calor,- paixão! Lume que o peito inflama!
E há tanto que espero almejado minuto
De aquecer-me ao calor desta sagrada chama!

Génio, tu foste caos, negro pithecus bruto!
Réptil, tu foste larva! Hoje és luz! E eras lama!
Esperar! Esperar! O' divino tributo
D'alma de quem tem fé! Ilusão de quem ama!


Primavera, hás de ter o tempo das vindimas:
Eu espero por ti, dia e noite, quimera!
-Eva, termo de tudo e termo destas rimas...
Jamais chegue porém, a que em meu estro impera,
E que sempre esperando, o' minha lira, exprimas
O desejo de quem esperou e inda espera!

Jorge Lima

Espera. Uma longa e interminável espera. Uma demora inconsciente e tão distante que se torna num acto utópico capaz de fazer deslizar na mente mais que um simples sentimento. Essa espera tão esperada e ao mesmo tempo nunca pensada. É como se fizesse um exame de instrospecção e compreendesse que muito para além da espera há o que não se aguarda, e possivelmente seja isso que torna esta espera tão inconstante. Não pensar nisto provoca vergonha, porque esperamos muito mais do que possamos imaginar, esperamos interminávelmente, necessitamos de demorarmo-nos. Se não esperassemos então nunca dariamos o real valor do que surge; e no entanto, pensar nisto desperta uma especie de curiosidade amedrontada. Mas o que esperamos nós? Cada espera tem um sentido, mas a demora que não se adivinha tem outro sabor. Então o que insconcientemente espero nem eu consigo ansiar, e talvez esperemos algo que acreditamos ser o certo mas nem sempre sabemos qual é realmente a nossa espectativa. Desaprendi a esperar ou talvez nunca o tenha sabido verdadeiramente. Não se trata de ânsias ou desejos, espera-se simplesmente. Mas o acto da demora é muito mais que a passagem do tempo ou uma perturbação, é a surpresa do que chega depois da espera.

(talvez houvesse muito mais a ser escrito, mas fico em espera. Dedicado a um ser que ainda espera e portanto vive)

Um comentário:

T. Geiroto Marcelino disse...

Dê, já não é a primeira vez que penso isto depois de ler um dos teus mais recentes escritos - tu escreves cada vez melhor! Fica a saber que não digo isto por dizer, a verdade é que já não sinto que não percebi lá muito bem o que querias dizer com as tuas palavras, porque, como já tinhamos falado nisso, as palavras (a escrita) pode querer idzer tanta coisa, nós damos-lhe tanto(s) significado(s), significados pessoais também. Mas agora sim, creio que ultrapassaste mais um nível e já escreves muito mais de ti para os outros (apesar de acreditar que também escreves muito de ti para ti, por ti, não porque és fechada egocentricamente em ti, mas porque vives muito o que escreves, aliás és muito o que escreves, estás sempre muito em tudo o que escreves).

adoro-te! (deixei uma pequena resposta ao teu comentário do meu último post).

bjo
mts bjs

Tânia

P.S.: para quem era a pessoa com menos sentimentos (sem ser insensível!) que eu conheço (e sei muito bem que fui eu quem disse isto), estás a sair-te muito sentimental... não quero que te intimides! mas a verdade é que não estava à ESPERA.