António Ulisses é o meu nome, e muitos mais acrescentaria para me apresentar enquanto escritor. Escrevo desde que me conheço e conheço-me desde que escrevo. Já escrevia antes de iniciar a minha escolarização e hei-de escrever depois da minha decadência. Editei contos, romances, aventuras... e mais hei-de escrever enquanto a minha caneta não secar e a minha cabeça não me atraiçoar. Já ganhei um Nobel mas ainda não escrevi o livro da minha vida, portanto não me venham dizer o que é de boa qualidade. Quarenta anos depois, a máquina de escrever continua a olhar-me de soslaio, parece desconfiada e no entanto tornámos-nos amigos desde o primeiro momento. Perguntam-me se sou casado, e seguro que a minha menina está sobre a mesinha de madeira da varanda. Olham com desdém e riem-se contraídos de uma falsa piada. Saberão o que é o humor? Talvez leiam com seriedade as críticas literárias ao meu trabalho e aí sim pequem por patetice. A piada está ali: escancarada nas colunas de crítica despojadas ao canto do jornal. É hilariante que estes supostos conhecedores da literatura descubram nos meus livros algo que nem sequer eu plantei... fantasmas e mais fantasmas. Mas porque é que tudo tem de ter um porquê? Deixem-se conduzir, a escrita é de tal forma sedutora que não precisa de pretextos para florir, deixem-se de porquês sem fundamento. Leiam, leiam, leiam até conseguirem perceber, e não se distraiam com que finge perceber e vive na dúvida do que diz. Obrigado
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"Fui bailar e o meu batel...", assim me começo por apresentar, começo pelo início e portanto pela minha essência: a música. Tornei-me cantora na banheira e ainda hoje pratico no chuveiro portanto não em dêem um palco, felizmente eu tenho voz, aproximem-se se me querem ouvir e partilhem comigo esta linguagem. Partilhem esta forma sonora de comunicação, sintam a simplicidade das notas, sintam-nas apenas. Não precisam de conhecer a letra, não são as palavras que contam mas a forma como as dizemos, não as digam, cantem-nas. Não atribuam à minha música géneros e estilos, não atribuam razões e entoações, não porque me incomoda ou me aflige mas porque elas não nasceram de mim, mas de quem as tenta aprisionar num enredo falseado. Continuo a dormitar com as musicas que componho e deixo-me acordar com elas completas, nasceram de um sonho porque e própria as entendo assim. Sou eu, és tu e o outro, somos todos ali escancarados no refrão. Não é ninguém, não há motivos, não há pretextos ali, por favor deixem-se de fantasias apaixonadas sobre antecedentes trágicos e desgostos de amor... estou aqui, aproximem-se, sim aproximem-se mais, somos todos fruto da poesia das pautas dos maestros. Sim esta sou eu: a música, a minha e a nossa música.