Fiquei sem reacção. Morri e fui sepultada ali, naquele sítio maldito, naquele lugar enevoado que por mais árvores que tenha será sempre uma floresta negra. Morri e continuo com a palpitação descontrolada. Morri e apetece-me matar. Morri e ainda assim quero suicidar-me...
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Conhecer o Pedro foi como pintar o mundo. É isto que faz a vida avançar sem motor ou rodas. É a facilidade com que estamos aqui ou lá, a liberdade para sermos nós e os outros, a capacidade de nos podermos"reciclar" e tornar-mo-nos outras pessoas ainda que com o mesmo rosto. Foi isto que o Pedro fez, abriu o sorriso e deu-me o bilhete para entrar no seu mundo, um mundo que eu pensava não ter saída.
Encontro às 15h, gelado a dois, cinema, teatro. Tudo era perfeito. O que mais admirava no Pedro era a forma como olhava para as coisas e sobretudo a forma como olhava para mim. Se pudesse descrever o seu olhar enigmático diria que é como a lua: todos os dias parece diferente, mas mantém sempre a mesma intensidade. Sempre atento e com um espiríto critico incrivelmente apurado e coordenado com o tempo, o Pedro conseguia estar no lugar e na altura de um acontecimento: falava de arte, cinema, música e tudo o resto com uma expressão de sartisfação total como se a humanidade fosse inocentemente criativa. Quando estavamos os dois entrelaçados sobre os lençois escorregadios de setim, as palavras eram completamente dispensáveis, a telepatia existente entre nós era incompreesível, e também não era preciso compreender, quando duas almas se encontram o corpo recupera o equilibrio e o meu equilibrio era o dele. Quando me deitava sozinha e tentava adormecer sobre o livro de Paulo Coelho, Onze Minutos, as sua frases faziam mais sentido do que em qualquer momento da minha vida "estar apaixonado é fazer amor mesmo quando não estamos juntos". Ficava a pensar nele durante toda a noite, todo o dia. Aliás esta fixação começava a enervar-me e a assutar-me. Amava-o. Finalmente podia dizê-lo, podia gritar que deixei cair o muro, podia dizer sem vergonha q tive coragem para dividir-me. Amava-o e isso chegava-me....
Encontro às 15h, gelado a dois, cinema, teatro. Tudo era perfeito. O que mais admirava no Pedro era a forma como olhava para as coisas e sobretudo a forma como olhava para mim. Se pudesse descrever o seu olhar enigmático diria que é como a lua: todos os dias parece diferente, mas mantém sempre a mesma intensidade. Sempre atento e com um espiríto critico incrivelmente apurado e coordenado com o tempo, o Pedro conseguia estar no lugar e na altura de um acontecimento: falava de arte, cinema, música e tudo o resto com uma expressão de sartisfação total como se a humanidade fosse inocentemente criativa. Quando estavamos os dois entrelaçados sobre os lençois escorregadios de setim, as palavras eram completamente dispensáveis, a telepatia existente entre nós era incompreesível, e também não era preciso compreender, quando duas almas se encontram o corpo recupera o equilibrio e o meu equilibrio era o dele. Quando me deitava sozinha e tentava adormecer sobre o livro de Paulo Coelho, Onze Minutos, as sua frases faziam mais sentido do que em qualquer momento da minha vida "estar apaixonado é fazer amor mesmo quando não estamos juntos". Ficava a pensar nele durante toda a noite, todo o dia. Aliás esta fixação começava a enervar-me e a assutar-me. Amava-o. Finalmente podia dizê-lo, podia gritar que deixei cair o muro, podia dizer sem vergonha q tive coragem para dividir-me. Amava-o e isso chegava-me....
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Ele não merece. Não te destruas. Aceitar que o meu bilhete caducou e foi roubado por outra enojava-me. Mas a vida continua. Pensar assim era a forma utópica com que a minha consciência aconselhava o meu corpo. Tentar ser hipócrita e fingir que nada aconteceu era o modo mais fácil para não me mexer. Nunca me imaginei entregar-me a eternos copos a transbordar de gin tónico, nunca calculei que um Pedro na minha vida fosse mergulhado entre dua pedras de gelo e uma rodela de limão. Era engraçado ver o seu sorriso refelctido no gás da água tónica, cada bolhinha de gás uma gargalhada, surda e finjida, sentia-me radiante e frustada. Esmaga-lo com a colher e vê-lo rir-se pateticamente para mim dáva-me náuseas. Tinha o estômago no lugar da gargarnta e a morte no lugar da alma. Estava perdida e sobretudo sentia-me um defunto. Um cadáver a quem roubaram o coração e o enterraram sem caixão ou velório. Isto era tão absurdo, completamente surreal pensar que um Pedro trazia na sua composição a qualidade de cabrão. O problema é que não li o rótulo e agora já tinha experimentado o produto, e para mal dos meus pecados eu gostei. O produto era de tamanha qualidade que não havia mais nenhuma embalagem. Mas estava enganada. Perdidamente enganada, daqueles produtos está o mercado cheio. A validade expirou e o encanto quebrou, quebrou-se o encanto e o stock parece inesgotável.
A minha mãe dizia-me vezes sem conta: "Quando estiveres nervosa lê uma passagem da Biblía, por mais pequena que seja acredita que te vais sentir melhor". Mas eu não estava nervosa. Aliás pela 1ºvez na minha vida não estava nervosa. Não tinha um Pedro à minha espera, não tinha de me preocupar em alinhar a roupa e ajeitar o cabelo, não tinha de preocupar com os atrasos nem com as datas, não havia nada que produzisse adrenalina no meu corpo. Ia receber a visita mais importante da minha vida que por ironia vinha para selar a minha morte. Mesmo neste momente solene e formal não conseguia estar preocupada. Tinha o cabelo sujo e um rosto lívido, mesmo a antever o que iria acontecer. As olheiras rendiam-se e davam uma cor arroxeada em torno dos olhos, e não sei como nem porquê, trajava a preceito: um vestido preto com um laço no canto, um laço que dizia ele significava a nossa união. Pois o laço desfez-se e ficou apenas um vestido negro sobre um corpo branco. Não tinha receio nem medo, estava vestida para a ocasião e por incrivel que possa parecer a espera não me custava. Mas numa hora tão solene e fúnebre as mães devem ser recordadas, e portanto abri a Bíblia que tinha no porta-bagagens, que aliás foi a minha mãe que a lá colocou, e dirigi-me à beira do rio e então li: Mateus 28 - "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei". Podia não estar nervosa, podia não crer em nenhuma das infinitas passagens bíblicas, mas assim o fiz, fechei os olhos senti-me voar, e só fui ter com Ele quando a água fria me embalou como um lençol e me abraçou juntamente com a morte .