quinta-feira, fevereiro 28

Vestida para a ocasião


Fiquei sem reacção. Morri e fui sepultada ali, naquele sítio maldito, naquele lugar enevoado que por mais árvores que tenha será sempre uma floresta negra. Morri e continuo com a palpitação descontrolada. Morri e apetece-me matar. Morri e ainda assim quero suicidar-me...

*****

Conhecer o Pedro foi como pintar o mundo. É isto que faz a vida avançar sem motor ou rodas. É a facilidade com que estamos aqui ou lá, a liberdade para sermos nós e os outros, a capacidade de nos podermos"reciclar" e tornar-mo-nos outras pessoas ainda que com o mesmo rosto. Foi isto que o Pedro fez, abriu o sorriso e deu-me o bilhete para entrar no seu mundo, um mundo que eu pensava não ter saída.
Encontro às 15h, gelado a dois, cinema, teatro. Tudo era perfeito. O que mais admirava no Pedro era a forma como olhava para as coisas e sobretudo a forma como olhava para mim. Se pudesse descrever o seu olhar enigmático diria que é como a lua: todos os dias parece diferente, mas mantém sempre a mesma intensidade. Sempre atento e com um espiríto critico incrivelmente apurado e coordenado com o tempo, o Pedro conseguia estar no lugar e na altura de um acontecimento: falava de arte, cinema, música e tudo o resto com uma expressão de sartisfação total como se a humanidade fosse inocentemente criativa. Quando estavamos os dois entrelaçados sobre os lençois escorregadios de setim, as palavras eram completamente dispensáveis, a telepatia existente entre nós era incompreesível, e também não era preciso compreender, quando duas almas se encontram o corpo recupera o equilibrio e o meu equilibrio era o dele. Quando me deitava sozinha e tentava adormecer sobre o livro de Paulo Coelho, Onze Minutos, as sua frases faziam mais sentido do que em qualquer momento da minha vida "estar apaixonado é fazer amor mesmo quando não estamos juntos". Ficava a pensar nele durante toda a noite, todo o dia. Aliás esta fixação começava a enervar-me e a assutar-me. Amava-o. Finalmente podia dizê-lo, podia gritar que deixei cair o muro, podia dizer sem vergonha q tive coragem para dividir-me. Amava-o e isso chegava-me....

*****

Ele não merece. Não te destruas. Aceitar que o meu bilhete caducou e foi roubado por outra enojava-me. Mas a vida continua. Pensar assim era a forma utópica com que a minha consciência aconselhava o meu corpo. Tentar ser hipócrita e fingir que nada aconteceu era o modo mais fácil para não me mexer. Nunca me imaginei entregar-me a eternos copos a transbordar de gin tónico, nunca calculei que um Pedro na minha vida fosse mergulhado entre dua pedras de gelo e uma rodela de limão. Era engraçado ver o seu sorriso refelctido no gás da água tónica, cada bolhinha de gás uma gargalhada, surda e finjida, sentia-me radiante e frustada. Esmaga-lo com a colher e vê-lo rir-se pateticamente para mim dáva-me náuseas. Tinha o estômago no lugar da gargarnta e a morte no lugar da alma. Estava perdida e sobretudo sentia-me um defunto. Um cadáver a quem roubaram o coração e o enterraram sem caixão ou velório. Isto era tão absurdo, completamente surreal pensar que um Pedro trazia na sua composição a qualidade de cabrão. O problema é que não li o rótulo e agora já tinha experimentado o produto, e para mal dos meus pecados eu gostei. O produto era de tamanha qualidade que não havia mais nenhuma embalagem. Mas estava enganada. Perdidamente enganada, daqueles produtos está o mercado cheio. A validade expirou e o encanto quebrou, quebrou-se o encanto e o stock parece inesgotável.

A minha mãe dizia-me vezes sem conta: "Quando estiveres nervosa lê uma passagem da Biblía, por mais pequena que seja acredita que te vais sentir melhor". Mas eu não estava nervosa. Aliás pela 1ºvez na minha vida não estava nervosa. Não tinha um Pedro à minha espera, não tinha de me preocupar em alinhar a roupa e ajeitar o cabelo, não tinha de preocupar com os atrasos nem com as datas, não havia nada que produzisse adrenalina no meu corpo. Ia receber a visita mais importante da minha vida que por ironia vinha para selar a minha morte. Mesmo neste momente solene e formal não conseguia estar preocupada. Tinha o cabelo sujo e um rosto lívido, mesmo a antever o que iria acontecer. As olheiras rendiam-se e davam uma cor arroxeada em torno dos olhos, e não sei como nem porquê, trajava a preceito: um vestido preto com um laço no canto, um laço que dizia ele significava a nossa união. Pois o laço desfez-se e ficou apenas um vestido negro sobre um corpo branco. Não tinha receio nem medo, estava vestida para a ocasião e por incrivel que possa parecer a espera não me custava. Mas numa hora tão solene e fúnebre as mães devem ser recordadas, e portanto abri a Bíblia que tinha no porta-bagagens, que aliás foi a minha mãe que a lá colocou, e dirigi-me à beira do rio e então li: Mateus 28 - "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei". Podia não estar nervosa, podia não crer em nenhuma das infinitas passagens bíblicas, mas assim o fiz, fechei os olhos senti-me voar, e só fui ter com Ele quando a água fria me embalou como um lençol e me abraçou juntamente com a morte .

sexta-feira, fevereiro 22

Saída do anonimato


Caros companheiros, camaradas ou visitantes da blogosfera tenho o prazer de comunicar a emancipação deste meu pequeno blog, para aquilo que será a sua salvação. Quando dei cara e cor a esta janela de fundo verde tinha apenas uma intenção: escrever o que queria, como queria e sobretudo, "postar-me". Sempre gostei de imaginar histórias e criar diferentes personagens. Ás vezes ficava sentada a imaginar-me na pele de um alquimista que se transforma em empregado de mesa porque o seu atlier incendiou, noutras pensava numa menina que queria ser ignorante para poder ser feliz, e assim ficava a assistir a uma mudança de personagens em que a caracterização passava exclusivamente pelos bastidores do meu cérebro. Contudo, as histórias não eram só e exclusivamente eu, felizmente eu também sou memórias, interesses, críticas e momentos. É curioso sermos nós e conseguirmos ser lugares ou pessoas sem sequer as conhecermos, por exemplo no post anterior, consegui ser a Frida e o México, consegui ser pintora sem ter nenhum dom e ser amante sem ter nenhuma paixão, e ser tudo isto sem sair do sofá pode ser uma experiência extasiante e muito enriquecedora. Portanto, aqui e agora sem rodeios ou entrelinhas, declaro aberta a vida "blogista" (não consta) do meu blog! Está dito e afirmado por mim, autora, tutora e eterna visitante deste blog até que a tecla DEL o extremine! Como tal acabaram-se as reticências e as hesitações, tenho um blog que independentemente do que contenha, seja o conteúdo bom para uns ou miserável para outros é o meu. Isto não significa porém a ausência das minhas visitas a outros companheiros, continuarei a aprender e a escrever, não desisto dos vizinhos e não renego os comentários. Porque hei-de ter um blog anónimo se assim apenas poderei escrever sem aprender com nada? Não basta publicar, é preciso uma consciência que nos indique como melhorar, aperfeiçoar mesmo que estando errada. Agora nãp pretendo entulhar esta janelinha de posts apenas para mim, apesar de também ser importante o significado das minhas postagens.

Isto por vezes tira-me do sério! Não sou moralista e não pretendo criticar nehum blog com vista ao meu, até porque independentemente das temáticas cada blog representa no minímo algo de valor para o seu "tutor",; arte, múscia, humor, romance, introspecção e tudo mais só faz da rede um lugar multifacetado e diversificado. Mas na minha opinião, há muitas janelinhas que deviam ser visitadas e também se encontram adormecidas nos favoritos dos seus criadores. Revolucionem e continuem, mas não devido "às modinhas" do blog. Assumam, não fiquem de maõs atadas, afinal sermos nós próprios é sinal de personalidade!


Tenho um blog: Desperdiçio de coisa nenhuma, pode ser um desperdiçio mas pelo menos é reciclável e não prejudica o ambiente!

sábado, fevereiro 16

Dependente da minha independência



- O que achas que é preciso para ter um casamento feliz?

- Ter uma memória curta. - Disse-me ele, com o ar carinhoso com que sempre me ouvia.

- Então porque te casas-te?

- Não me lembro. - Ficámos assim, penetrados no silêncio. Olhavamo-nos e sorriamos juntos. O meu pai era assim, tolerante e directo. E eu, eu era apenas a sua menina, a menina que queria ser independente.



********

- Queres casar comigo?
- Porquê?
- Porque quero que faças parte da minha vida, porque quero-te dentro dela.
- Hum, mas tu não consegues ser casado?
- Como não? Já o fui duas vezes! Não falo de ser fiel. Sabes, o meu médico disse-me que estou incapacitado de ser fiel. Mas quero-te a acordar comigo. Não te posso prometer fidelidade.
- Que diagnóstico tão conveniente. Eu aceito. Não espero a tua fideliadade mas juras-me lealdade?
- A ti? Sempre.


Casar-me com um pintor comunista não prometia uma vida tranquila mas assegurava-me personalidade. Ser artista era ser de cada modelo, era não ser fiel a só uma mulher, era amar tudo e com a mesma força. Por isso me apaixonei por ele, pelo que era, pela franqueza de me ser leal e pela coragem de mesmo assim querer acordar comigo. O que mais admirava naquele homem de ideais convictos era a capaciadade de ser realista, de me criticar sem rodeios, de ver beleza nas minhas imperfeições e assim fazer de mim perfeita.
Durante 8 anos mesmo infiel, o meu comunista foi-me leal. Apoiou-me e fui pintando, em cada pincelada marcava o que tão dificilmente me custava admitir. Sabia da sua mania de amar tudo de ver o sexo apenas como algo humano, sem amor, só toque. A tinta rosa soava a vermelhão, a amarela em laranja carregada e fui tornando os meus quadros num puzzle de turbilhões de sentimentos contrários, fui crescendo com tintas e pincéis. Também tinha os meus romances passageiros, envolvi-me com mulheres e com homens, mas somente à noite me satisfazia, tinha-o comigo, dentro de mim e isso fazia sentir-me segura. A sua fama cresceu, as traições aumentaram e a lealdade outrora inquebrável, quebrou. Encontrei-o no seu atlier, nu e com a carne suada como um porco num dia de romaria, por cima de uma mulher, provavelmente outra dessas rameiras com quem costumava dormir. Mas as probabilidades valem por serem imprevisíveis e aquele rosto tão familiar, resultou na dura constatação da traiçaõ da minha irmã e na desleadade do homem da minha vida. Afastámo-nos. Ele conseguiu fama e eu fui reconhecida noutros países. Tive tantos casos mas a ausência daquele pintor infiel e aporcalhado não se apagava. Fui presa por pensarem estar ligada aos ideais comunistas do meu marido e as dores aumentaram. Perdera um filho aos bocados, perdera a minha mãe mas não conseguia parar de pintar. Mesmo salva por ele da cela gelada que aprisionava os conspiradores, continuei sofrida, o meu corpo estava gradualmente a perder as forças. Continei a ter sessões intermináveis com o médico, endireitar a ferros a coluna, a tentar estar direita, engessada e destroçada continuei.
Uma tarde como outra qualquer, numa das muitas sessões inacabáveis com o doutor, descobri mais uma doença, a qual levou a que me retirassem dois dedos do pé. "Porquê ter pés se tenho asas para me fazer voar". Foi então que ele apareceu, implorando para voltar a acordar comigo, na mesma ou noutra cama qualquer. Fiquei cada vez mais doente, até que surgiu a oportunidade de expor os meus quadros no meu país, o sabor dos dias quentes e as pessoas alegres iam finalmente poder identificar-se com o que pintava nos meus quadros. Pintava a minha dor, pintava a impossibilidade de ter limites, pintava a minha vida, o meu amor, e a minha dor. O meu marido dizia-me que era maravilhoso o que eu pintava, pois abstraía-me do mundo de fora para pintar o que me surgia do coração. Sim, auto-retratava-me sem rodeios, pintava-me e compreendia-me. Talvez por isso aprendi a ser eu. Aprendi a conhecer-me, sem ter de em comparar com os outros, aprendi que não pintar sonhos faz com que aprenda a tolerar-me, e ainda assim a ser feliz. Ele continuou ali, infiel mas leal, a olhar com doçura as minhas imperfeições e mesmo doente a dividir a vida que ainda tinha em mim. Impediu-me com a conivência do médico de ir à minha própria exposição, com a desculpa de não poder sair da cama. Mas fui, vi a minha exposição ao compasso das sinceras e críticas palavras do meu marido...
Adoeçi mais e mais, mas mesmo assim continuei a expressar a minha doença e a minha felicidade por ainda o ter. De repente tudo acabou, os meus olhos fecharam-se em permanente comtemplação daquele rosto de artista insento de hipocrisia. Consegui ser independente de mim e felizmente dependente dele.






NOTA: Esta estória foi completemente baseada no magnífico filme "Frida", da pintora mexicana Frida Kahlo, o qual eu aconselho todos a verem. Uma estória que nos deixa ser seduzidos pelo amor, a coragem e as cores quentes do México.

quarta-feira, fevereiro 13

Sweeney´s here! Welcome Barber!!!

Porque o cinema pode ser uma aventura ao outro lado do mundo, ao mundo de Fleet Street em Londres onde um barbeiro se vinga pela mão da sua navalha, e o melhor é que canta... Um musical da Broadway com uma exelente banda sonora e as suas interpretações, não podia deixar de mencionar que o facto de ser o Johnny depp também contribuiu mas , e há sempre um mas, o barbeiro não seria nada sem as suas vitimas, e portanto o Depp não estaria no sue melhor sem os outros actores e actrizes! Ahhhhhhhh a caracterização está exelente o que não seria de esperar da equipa dirigida pelo Tim burton. O filme até pode estar na moda mas o musical já é antigo, a razão pela qual o argumento tem força! Deixo-vos a letra da minha música predilecta por todas as razões possíveis e imaginárias.

Stephen Sondheim
Anthony: Mr. Todd!
Todd: Out!
Lovett: What is it now, dear?
Todd: I had him — and then (...)
Lovett: (...)down the stairs
Todd::
I had him!
His throat was bare
Beneath my hand !
Lovett:
There, there, dear. Don't fret.
Todd:
No, I had him!
His throat was there,
And he'll never come again!
Lovett:
Easy now.
Hush, love, hush.
I keep telling you
Todd:
When?
Lovett:
What's your rush?
Todd:
Why did I wait?
You told me to wait!
Now he'll never come again!
There's a hole in the world
Like a great black pit
And it's filled with people
Who are filled with shit
And the vermin of the world
Inhabit it
But not for long!
They all deserve to die!
Tell you why, Mrs. Lovett
Tell you why:
Because in all of the whole human race, Mrs. Lovett,
There are two kinds of men and only two.
There's the one staying put
In his proper place
And the one with his foot
In the other one's face
Look at me, Mrs. Lovett,
Look at you!
No, we all deserve to die!
Even you, Mrs. Lovett
Even I:
Because the lives of the wicked should be
Made brief.
For the rest of us, death
Will be a relief
We all deserve to die!
And I'll never see Johanna,
No, I'll never hug my girl to me.
Finished!
All right! You, sir,
How about a shave?
Come and visit
Your good friend Sweeney!
You, sir, too, sir?
Welcome to the grave!
I will have vengeance!
I will have salvation!
Who, sir? You, sir?
No one's in the chair
Come on, come on,
Sweeney's waiting!
I want you bleeders!
You, sir — anybody!
Gentlemen, now don't be shy!
Not one man, no,
Nor ten men,
Nor a hundred
Can assuage me
I will have you!
And I will get him back
Even as he gloats.
In the meantime I'll practice
On less honorable throats.
And my Lucy lies in ashes
And I'll never see my girl again,
But the work waits,
I'm alive at last
And I'm full of joy!
Lovett:
That's all very well, but what we gonna do about him?
Hello! Do you hear me? (...)