Diz-me o que queres ouvir e eu sussurrar-te-ei. Conta-me as façanhas dos conquistadores e leva-me a navegar pelas praias que não traçaste. Suga-me a valentia pelos lábios virgens da ingenuidade e eu prometo dar te o antídoto necessário à enfermidade dos dias.
Sim, eu sei, nunca quis ser nada. No recôndito da diminuta alma descobri o desejo de voar e agarrei-o. Algemei-o no meu peito com a crença de que seria, por ventura, distinta. Sempre o quis. Ansiei violentamente libertar as amarras do enclausuramento humano para me pintar de melodias escritas e sonetos de liberdade. Cobicei ser alguém na imensidão do sombrio espaço que enlaça e sufoca com as infortunadas recompensas que outorga. Foi como um sonho em que os limites indecifráveis pela transparência que encerram, em que o fim é inequivocadamente ilusório e a incalculável extensão humana é dada como a certeza da flecha que trespassa o coração. Ao longo de noites intermináveis enquadrei na moldura ideais revolucionários e sentenças implacáveis, e foi nisto que auto retratei imaculados dons.
Foram tantas as vezes que a linhagem dos que perduram nas prateleiras enfileiradas pareceu corresponder à minha estripe. Sobre tantos títulos adormeci consciente de que fazia fecundar o meu, eu que os desmenti provocatoriamente e que acabei por torná-los um vicio.
Sabes, imaginei-me dolentemente, gravemente, enlouquecida deste estro idilico e em repentinos acessos de loucura achei-me transformada nessa gente, e o mundo parecia pequeno. Não procures questionar estas adulteradas divagações. Na verdade, (como gosto desta expressão, na verdade) elas não existem, são meramente fantasiosas e colhidas das raízes maduras da imaginação. A compaixão abomina-me e as condolências alienadas dos curiosos itinerantes aterrorizam. Eu, que tantas vezes me achei só, sou desconhecedora da solidão, o ensurdecedor silêncio ainda permanece um enigma indecifrável. Sim, eu quis ser desses poetas apaixonados e incompreendidos que não se deixam acometer pelas palavras, genuinamente fugazes. Tornou-se possível tatuar esta maqueta padronizada que outrora chamaram mundo. A crença de que o revestiria levou-me a padecer das mazelas orgânicas e na balada nocturna confiei o meu ser, a capacidade de me libertar de tudo o que pudesse comprometer esta cerrada ambição converteu-se em fachada. Sou parte da humanidade e de uma certa forma isso entristece porque me faz recuar. Rasgaria a pele para não me fragilizar, de espírito limpo expurgaria as influências maliciosas e voaria. Não haveria recanto onde não pudesse estar nem presente que me prendesse. Somente ele, só o desconhecimento pelos lugares inóspitos me alimentaria a iludida alma. É vil a razão, puxa com a violência de um turbilhão endiabrado e não nos deixa partir. Talvez tenha sido eu quem usurpou a mascara para esconder o que temia, a banalidade é a defesa de quem ainda não se desfez da bagagem. Acreditei poder alcançar as infindas latitudes, que pensei respirar versos e fazê-los florir em poemas. É uma estranha idade, esta, a dos sonhos, em que os lírios cobrem os campos de luz e a vida corre sem contrariedades. É a ténue visão da efemeridade da juventude, a composição dos timbres festivos. Teria reunido as munições necessárias caso a cobardia infantil não inflamasse os olhos e por isto seria natural se nunca o desejasse ser.
Sabes, imaginei-me dolentemente, gravemente, enlouquecida deste estro idilico e em repentinos acessos de loucura achei-me transformada nessa gente, e o mundo parecia pequeno. Não procures questionar estas adulteradas divagações. Na verdade, (como gosto desta expressão, na verdade) elas não existem, são meramente fantasiosas e colhidas das raízes maduras da imaginação. A compaixão abomina-me e as condolências alienadas dos curiosos itinerantes aterrorizam. Eu, que tantas vezes me achei só, sou desconhecedora da solidão, o ensurdecedor silêncio ainda permanece um enigma indecifrável. Sim, eu quis ser desses poetas apaixonados e incompreendidos que não se deixam acometer pelas palavras, genuinamente fugazes. Tornou-se possível tatuar esta maqueta padronizada que outrora chamaram mundo. A crença de que o revestiria levou-me a padecer das mazelas orgânicas e na balada nocturna confiei o meu ser, a capacidade de me libertar de tudo o que pudesse comprometer esta cerrada ambição converteu-se em fachada. Sou parte da humanidade e de uma certa forma isso entristece porque me faz recuar. Rasgaria a pele para não me fragilizar, de espírito limpo expurgaria as influências maliciosas e voaria. Não haveria recanto onde não pudesse estar nem presente que me prendesse. Somente ele, só o desconhecimento pelos lugares inóspitos me alimentaria a iludida alma. É vil a razão, puxa com a violência de um turbilhão endiabrado e não nos deixa partir. Talvez tenha sido eu quem usurpou a mascara para esconder o que temia, a banalidade é a defesa de quem ainda não se desfez da bagagem. Acreditei poder alcançar as infindas latitudes, que pensei respirar versos e fazê-los florir em poemas. É uma estranha idade, esta, a dos sonhos, em que os lírios cobrem os campos de luz e a vida corre sem contrariedades. É a ténue visão da efemeridade da juventude, a composição dos timbres festivos. Teria reunido as munições necessárias caso a cobardia infantil não inflamasse os olhos e por isto seria natural se nunca o desejasse ser.
Andreia Silva
2 comentários:
essa verdadeira perfeição mórbida com que escreves é estonteante... Posso garantir-te, a tua escrita é qualquer coisa... "É uma estranha idade, esta, a dos sonhos, em que os lírios cobrem os campos de luz e a vida corre sem contrariedades"
É bom que me sigas, se não vais ter graves consequências. Muahaha
vai dormir que o teu mal é sono.
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