sábado, dezembro 27
Palavras
quarta-feira, dezembro 17
Espera (título plagiado)
"Espera"
Botão! Serás corola e esperarás ser fruto...
Serás calor,- paixão! Lume que o peito inflama!
E há tanto que espero almejado minuto
De aquecer-me ao calor desta sagrada chama!
Génio, tu foste caos, negro pithecus bruto!
Réptil, tu foste larva! Hoje és luz! E eras lama!
Esperar! Esperar! O' divino tributo
D'alma de quem tem fé! Ilusão de quem ama!
Primavera, hás de ter o tempo das vindimas:
Eu espero por ti, dia e noite, quimera!
-Eva, termo de tudo e termo destas rimas...
Jamais chegue porém, a que em meu estro impera,
E que sempre esperando, o' minha lira, exprimas
O desejo de quem esperou e inda espera!
Jorge Lima
Espera. Uma longa e interminável espera. Uma demora inconsciente e tão distante que se torna num acto utópico capaz de fazer deslizar na mente mais que um simples sentimento. Essa espera tão esperada e ao mesmo tempo nunca pensada. É como se fizesse um exame de instrospecção e compreendesse que muito para além da espera há o que não se aguarda, e possivelmente seja isso que torna esta espera tão inconstante. Não pensar nisto provoca vergonha, porque esperamos muito mais do que possamos imaginar, esperamos interminávelmente, necessitamos de demorarmo-nos. Se não esperassemos então nunca dariamos o real valor do que surge; e no entanto, pensar nisto desperta uma especie de curiosidade amedrontada. Mas o que esperamos nós? Cada espera tem um sentido, mas a demora que não se adivinha tem outro sabor. Então o que insconcientemente espero nem eu consigo ansiar, e talvez esperemos algo que acreditamos ser o certo mas nem sempre sabemos qual é realmente a nossa espectativa. Desaprendi a esperar ou talvez nunca o tenha sabido verdadeiramente. Não se trata de ânsias ou desejos, espera-se simplesmente. Mas o acto da demora é muito mais que a passagem do tempo ou uma perturbação, é a surpresa do que chega depois da espera.
(talvez houvesse muito mais a ser escrito, mas fico em espera. Dedicado a um ser que ainda espera e portanto vive)