- Amo-te. - Disse olhando-o directamente nos olhos, como sempre fazia.
- Como assim amas-me? - Respondeu tresloucado com tal declaração.
- Assim, amo-te. - Encolhi os ombros e voltei a fixar o horizonte. Costumávamos sentarmos-nos no muro a contemplar o horizonte. Ali soberano e longiquo, tentávamos adivinhar o que se escondia por detrás das nuvens disformes. Conversávamos com o silêncio e acabávamos exaustos de tanto falar por sorrisos e suspiros.
A tarde estava quente, e ao fundo de um tapete de azul infinito escondia-se um mundo que já antes de ser catalogado nos pertencia, antes de haverem países, cidades, monumentos e maravilhas, o universo fora nos oferecido. Paris, Espanha, Índia... o mundo passava em película morosa e repetitiva sem nunca cansar os espectadores, e nós maravilhados por saber que antes do nascimento das cidades imperiais e dos monumentos majestosos, já o universo se tinha encarregue de nos incorporar num só crepúsculo. Sentiamo-nos unidos por uma força inexplicável e superior ao compromisso de sangue. Talvez fosse o destino, talvez, talvez, talvez... Não importavam os "mas" eu descobri que o amava e a felicidade desta relação transbordava em sorrisos pateticamente genuínos.
- Olha o que queres dizer com "amo-te"? - Perguntou-me, interrompendo o meu pensamento.
- Sei lá, amo-te e isso chega-me. - Estava impaciente com tanto interrogatório.
- Mas não entendo...
- O que é que não entendes? Eu é que não entendo essa tua obsessão numa confidencia vazia de outras interpretações que não seja o amor.
- Não entendo... Nós somos amigos...e... sempre fomos como irmãos. Lembras-te? Estamos unidos por uma força... inquebrável.
- Sim. Por isso mesmo amo-te. Amo-te. Amo-te. Isto chega-me e a ti, não?- Retorqui isenta de meias medidas e formas de dizer uma única só verdade. Ficou pensativo, mas não foi capaz de me encarar.
- Desculpa. - Disse envergonhado. Finalmente percebeu. Soluçava baixinho mas sorria tal como eu. Agora sim nada nos podia separar. O mundo presenciava e abençoava esta revelação. O horizonte escancarava as portas já abertas por nós, mesmo antes de estarmos juntos. Sim, amávamos-nos. Um amor sem limites tal como o amor deve ser. Um amor puro e infinito, era assim... Não o conseguia descrever... apenas podia afirmar com a certeza inabalável de que nunca nos iríamos separar. Sim. O nosso amor era uma chama que ardia sem se ver, a chama que clamava mais alto quando estávamos em apuros, a chama que borbulhava quando estávamos juntos. Uma chama inocente sem segundas intenções, sem indecisões, sem medos, sem birrinhas. Era tão simples. Conheciamos-nos desde crianças e desde o primeiro momento tornámos-nos amigos.
"- Posso brincar contigo?"
Ainda me lembro da tarde fantástica que tivemos na praia após a tua coragem. A pergunta que deu inicio a um ciclo que concerteza se renovará com as nossas gerações. Era patético tentarmos ler a forma de classificar o amor, o amor não é isto nem aquilo, é um todo. É o que eu quiser ou o que tu quiseres desde que seja puro. Não há amizade, nem amor fraterno, nem amor de homem e mulher que tanto os poetas descrevem. Há amor. Há amor simples e desprovido de rótulos. Somos amigos e para sempre seremos. Digo-o com a veemência de quem sabe o futuro. Não estou a ser sonhadora e muito menos estou presa a uma ilusão prematura. É sempre amor, em qualquer circunstância, é amor independentemente por quem é sentido. Pode haver paixão, desejo, companheirismo, protecção mas é sempre, sempre amor. E descobrir a fórmula pura e sem aditivos do amor fez nascer em mim a verdade da impossível solidão. Nunca estarei sozinha enquanto no mundo houver amor, e enquanto em mim estiveres tu, meu querido amigo. Amo-te.
Um comentário:
'O amor não é aquilo que queremos sentir.. é sim o que sentimos sem querer..'
Por isso tenho de te dizer, Andreia que eu sem querer sinto amor e carinho por ti! Que eu sem querer me apaixonei loucamante pelo teu ser. E que sem querer quero ser feliz ao teu lado!
Adorei o texto!! Tens muito jeito!!
Beijão**
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