terça-feira, maio 3

Vá lá. Estamos sós. Eu e tu aqui sozinhos neste tempo infindável. Porque não me ajudas? Porque me deixas entregue a mim e à minha ausência, à minha incapacidade. Não é justo, sabes? É ingrata esta tarefa de ser sozinha, de abstrair o mundo sem companhia, de o fazer renascer em ti sem que me presenteies com a tua dádiva. Queres uma prova? é verdade, eu não consigo. Não sem ti, não sem ambos a tentar o mesmo. Sabes que eu tento ou se calhar descobristes que tento com fingimento e isso atinge-me como um míssil. Queres que admita a minha falência, pois então aqui despojada de falsos moralismos admito não conseguir. Claro a culpa é minha, toda minha. Porque não me traduzes os pensamentos? Sabes bem que não te acompanho, sabes que isto me deixa doente. A constante verdade de não se conseguir.

Venceste. Se pelo cansaço, não sei. Também não poderia esperar mais de ti, só vives quando te agarro, quando te dou cor e forma. Estás sempre na minha frente, como uma verdade achatada à qual não podemos escapar.


Não consigo. Admito, não te consigo fazer trabalhar por mim. Afinal és apenas uma esfereográfica. Sem vida, tal como eu quando não conspiramos em segredo, juntas.

Um comentário:

Diogo Garcia disse...

Confesso que quando vi aqui um post, passado quase meio ano, abriu-se um sorriso e a vontade de gritar 'welcome back' foi enorme. Mas ao ler o texto percebi que esse grito seria talvez precoce. E apesar da frustação triste do texto não pude deixar de gostar de o ler. Aliás gostei bastante. Tudo o que posso fazer agora é desejar que essa distância entre tu e a caneta, ou entre tu e a inspiração se encurte ou deixe de existir.
A realçar. entre outros:
"Afinal és apenas uma esfereográfica. Sem vida, tal como eu quando não conspiramos em segredo, juntas."