Vá lá. Estamos sós. Eu e tu aqui sozinhos neste tempo infindável. Porque não me ajudas? Porque me deixas entregue a mim e à minha ausência, à minha incapacidade. Não é justo, sabes? É ingrata esta tarefa de ser sozinha, de abstrair o mundo sem companhia, de o fazer renascer em ti sem que me presenteies com a tua dádiva. Queres uma prova? é verdade, eu não consigo. Não sem ti, não sem ambos a tentar o mesmo. Sabes que eu tento ou se calhar descobristes que tento com fingimento e isso atinge-me como um míssil. Queres que admita a minha falência, pois então aqui despojada de falsos moralismos admito não conseguir. Claro a culpa é minha, toda minha. Porque não me traduzes os pensamentos? Sabes bem que não te acompanho, sabes que isto me deixa doente. A constante verdade de não se conseguir.
Venceste. Se pelo cansaço, não sei. Também não poderia esperar mais de ti, só vives quando te agarro, quando te dou cor e forma. Estás sempre na minha frente, como uma verdade achatada à qual não podemos escapar.
Não consigo. Admito, não te consigo fazer trabalhar por mim. Afinal és apenas uma esfereográfica. Sem vida, tal como eu quando não conspiramos em segredo, juntas.