Há quem não acredite mas ainda não descobri o que se esconde por detrás da minha janela. Muitas vezes saio ou entro em casa sem a abrir, e o que apenas vejo resume-se às cores difusas das cortinas. Porém, mesmo na apatia das manhãs ou noites em que retorno ao quarto, eu sei, talvez somente no inconsciente, que existe um outro mundo exterior Às paredes. E sei, não porque trespasso a porta de madeira que deixa em sossego a construção onde sempre volto, mas porque advinho e desejo que assim seja, tanto que não concebo o universo de outra forma. Estou neste estado, num desânimo persistente que não me sossega durante o dia e me atormenta nas horas nocturnas, na incerteza do desconhecido deixo-me assim, permito-me ficar em contínua espera do fim dos dias. Quando mal acordo mal desejo regressar aos lençóis e quando mal regresso só desejo que amanheça. E o que será, na verdade, a efemeridade dos dias? Não sei, ainda... Porque me habituei a viver sobre o hábito, e o hábito de demorar-me é mais automático, fácil e veloz que todos os outros. Então fico em frente à janela na dormência da espera, e não vejo nada. A única certeza é de que existe algo, mas o que existirá? Decerto não descobrirei aqui, nem aqui nem em lugar nenhum enquanto me autorizar o hábito. Mas a fugacidade da coragem retraí-me e num passo em frente, recuo sempre outros dois. Possivelmente a espera permite-me viver em conformidade com o percurso banal de diversos seres sociais, mas eu não quero ser banal... nem comum, nem coisa nenhuma. Para quem tanto se habituou a esperar, nem sabe o que espera, e isto sim é mais medonho que o desconhecido. Porque não me deixa procurar sem que primeiro me encontre. Eu quero definir-me pelas coisas que vejo e não por algo que suponho existir, francamente não percebo estas decisões modernas quanto ao futuro. E mesmo que ignorante não quero compreender, não posso.
Tirado da gaveta