20 de Novembro de 2008 (data original da produção deste texto)
Passaram-se vinte dias. Não contei as noites. Vi o sol nascer vinte vezes e, no entanto, nunca vi o céu escurecer. Não sei ao certo quanto tempo são vinte dias, não consigo fazer equivalências temporais, não consigo nem quero fazê-los corresponder às horas e minutos gastos. Apenas sei que são vinte dias porque vinte vezes abri os olhos e contemplei o amanhecer. Talvez o sol tenha aparecido umas outras tantas vezes, mas o meu limite são vinte dias. Penso no significado deste número, gosto de o pronunciar e,no entanto, não sei quanto ele contabiliza. Será muito ou pouco tempo? A mim parece-me uma eternidade. Quando nada se tem tudo se torna demasiado verossímil, se o tempo é semelhante às rugas que se formaram timidamente em redor do meu rosto, então vinte dias representam muito tempo. Talvez consiga viver mais vinte dias, uns outros tantos acrescidos a estes, mas esse período é demasiado comprido, se tal acontecesse teria de ser acrescentado ao meu rosto mais algumas rugas. Cresci e vivi neste buraco de céu azul, privado do calendário, o tal que dizem contar mais de vinte dias. Também não sei ao certo se a sequência que contabilizei está correcta. Francamente não me preocupa viver ao contrário do relógio do mundo. No meu há apenas o dia, o sol que marca os números, os mesmos que se somam até o número vinte.
Durante estes dias algumas das minhas plantas morreram, inclusive a palmeira heroína, a mesma que outrora resistiu a ventos e tempestades, e outras floresceram da terra seca, portanto de durante este bloco temporal eu pude observar a vida e o contrastante falecimento, acredito plenamente que vinte dias representam um ciclo, desses que se repetem gradualmente e aumentam a vida terrestre. Intimidamente faço cálculos, fico terrivelmente amedrontado quando penso se durarei mais uns vinte dias então escolho permanecer na ignorância do meu pensamento, é um esforço desleal, e uma luta que inúmeras vezes pensei ter perdido. Mas felizmente há sempre um dia em que o sol se mostra escondido e eu acabo por confundir os números. Ainda bem que me deixo atraiçoar por mim e que apenas conheço os números até vinte.
Durante estes dias algumas das minhas plantas morreram, inclusive a palmeira heroína, a mesma que outrora resistiu a ventos e tempestades, e outras floresceram da terra seca, portanto de durante este bloco temporal eu pude observar a vida e o contrastante falecimento, acredito plenamente que vinte dias representam um ciclo, desses que se repetem gradualmente e aumentam a vida terrestre. Intimidamente faço cálculos, fico terrivelmente amedrontado quando penso se durarei mais uns vinte dias então escolho permanecer na ignorância do meu pensamento, é um esforço desleal, e uma luta que inúmeras vezes pensei ter perdido. Mas felizmente há sempre um dia em que o sol se mostra escondido e eu acabo por confundir os números. Ainda bem que me deixo atraiçoar por mim e que apenas conheço os números até vinte.
Diário de um Náufrago
(este texto foi escrito originalmente durante uma aula, e embora aparente não ter nexo, resultou num bom momento de descontracção)
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