sábado, abril 17

Relatividades

Detesto meios romances. Mais que isso, não suporto relações. E isto não acontece por nenhum motivo em especial, mas apenas porque não acredito que existam.

Ainda assim leio Tristão e Isolda, sossego-me destas determinações e permaneço embebida por coisas inexistentes. Espreito a janela e não vejo ninguém. É hora de ponta mas não vejo ninguém. Demoro-me mais um pouco encostada ao vidro frio e penso em ti. Porque não acredito em nós e não nos vejo no futuro. Apetece-me somente este terno presente em que não somos um do outro mesmo quando nos entrelaçamos, chega-me sentir esta proximidade realista que não adiciona ilusões. Bem sei que amanhã talvez não sejamos mais, que provavelmente o nós se desvanecerá com as horas do relógio e eu ficarei onde sempre estive, junto da janela.

Não precisas de me sussurrar baixinho que ficarás comigo, muito menos dares-me a mão quando juntos vemos o Tejo. Não quero. Dá-me só este sopro de vida hoje, enquanto não me recordo do depois.

sábado, abril 10

Retiros (um poema que ecoa)

Dores alternadas

(...)
Se não puder mais que pensar em ti
deixo que se me gaste o pensamento
a reduzir sentido por sentido
letra por letra o alfabeto o só
com que nos entendemos

Porque sou o percurso banal
de todos os pensamentos
feito à conta de esquecer
os que de pensamento se tornaram irrealizáveis

E se te tirarem a nossa máscara?

Guardarei o molde na parede que se me esvai
no sabor a lagos distantes com peixes esquecidos
e penso em ti


Quis soprar o pó e apaguei
E sou ridículo por adivinhar-te
nos minutos que gastam pó pelas minhas janelas

(...)

Fernando Lemos