sexta-feira, setembro 5

A fórmula da solidão (excerto)

22, Agosto de 2008

Penso ter descoberto o segredo dos deuses. A fórmula secreta da eternidade e a verdade de todos nós. De todos os domínios em que investi, é talvez este o que mais receio.
A ideia da divulgação deste segredo fascina-me ao mesmo tempo que me assusta. O sangue gela-me os ossos de cada vez que penso partilhá-la com o meu querido Óscar. Por outro lado sinto que de qualquer forma, este seria o perfeito elixir para o meu marido, para a minha solitária mãe, e talvez para mim nas noites em que ele trabalha alienadamente, e me deixa a dormitar sobre os lençóis frios de cetim.
Passaram-se semanas até que conseguisse voltar a recuperar o fôlego e o ânimo para escrever. Tenho vivido uma experiência incrível em segredo, e o facto de a ter de olvidar do Óscar, provoca-me arrepios e uma atemorizante culpa. Sinto-me traída por mim, porque teimo em dissimulá-la da minha mente, e sinto que estou a trair o meu marido, por não lhe poder e conseguir confiar este mistério.
Enquanto contrabalanço os efeitos benéficos e nocivos daquela que será a maior noticia dos últimos tempos, penso que estar sujeita a interveniências exteriores. Tenho dormido pouco nos últimos tempos, e durante o ínfimo tempo em que mantenho os olhos fechados, dou por mim com a respiração ofegante. Vejo-me sozinha num espaço colossal, e transporto em mãos documentos valiosos, os quais valem fortunas desmedidas, e no entanto quando os penso entregar abate-se sobre mim uma tristeza tão profunda que os desvanece da minha posse. Isto faz-me cogitar que talvez ninguém deva saber da minha investigação, nem mesmo o meu querido Óscar. Talvez seja um sinal ou um mero receio de quem se deixou possuir pela dúvida, mas não insisto em arriscar, pois suspeito que mesmo tendo esta formula poderes absolutamente inefáveis, segundo os livros dos sábios, pode atraiçoar quem por ela cobiçar assoberbadamente.
Entre dúvidas e receios penso no Óscar. Penso na forma como esta receita divina o poderia ajudar a libertar-se de si mesmo. Por outro lado não o imagino de outra forma, aprendi a conviver com o seu isolamento, assim como ele aprendeu a coabitar com os espectros que o atormentam nos dias mais mórbidos. Talvez seja isto que nos une, a capacidade de coexistimos numa casa comum, mesmo tendo concepções de mundo diferentes, mas indubitavelmente paralelos. Amo-o porque encontrei nas suas imperfeições as minhas virtudes, e nas suas qualidades os meios defeitos. O nosso casamento trouxe-me cada vez mais certezas, e nas influências dos pensamentos inconstantes do meu marido não descobri quaisquer efeitos nocentes, não deixar de pensar por mim devido à afluência dos seus ideias, não deixei de ser eu para passar a ser um clone dele, tal como ele também não o fez. Ao invés disto, passei a ser ainda mais convicta de mim por descobrir que estive segura na escolha do homem certo, no companheiro que por não ser perfeito relembra-me que também não o sou, e isso faz-me pensar. E enquanto penso evoluo, e por isso supero os meus medos, porque sou capaz de reflectir sobre eles.
Não sei o que é isto do casamento, e francamente julgo nunca poder descobrir. Não o vejo como um desses romances de novelas mexicanas, aquelas que a minha mãe gosta de assistir para se enganar sobre o seu próprio casamento. Para lhe acrescentar adereços e apêndices que não existem.
Tenho estas certezas por acreditar que as convicções se desfazem com o tempo, e saber disto faz-me desacreditar que posso ter certezas. Presentemente tenho a firme convicção de que amanha posso não acordar com as verdades do dia anterior, e enquanto assim pensar posso dormir feliz, sem ter a segurança do que é a felicidade.

Jane Green
Escrito por Andreia Silva